Enquanto
isso, aluno e professor de história conversavam num bar.
Aluno : -Minha
nossa senhora...minha muié não me deixa em paz. Esse zapzap é uma merda.
Professor : -Estou muito preocupado! Não somos mais donos do nosso tempo.
-Mas não
somos mesmo! Não se pode nem beber em paz.
-Mas não
falo disso...veja só! Ninguém pode viver fragmentando-se pela perda natural de
tudo quanto possui. A personalidade a deterioração do próprio pensamento, tudo
vai deixando de ser continuamente. Significa que o homem vai perdendo sua
própria conduta, a forma como assimila as coisas e a própria compreensão delas
e de si mesmo. Começa a faltar-lhe a compreensão de sua integridade, porque
está partiu-se como a própria informação.
- Papo
cabeça hein? Mas francamente...acho que isso é conversa de geração que não
compreende a outra. As pessoas vão adaptar-se ao ritmo alucinante da vida
moderna e pá...
- Não sou tão otimista. Passamos a viver uma cobrança
constante de produção, um excesso de estímulo. O tempo converteu-se em moeda de
grande valia. Eu posso trocá-la, mas não a tenho para emprestar. Meu tempo é um
depósito em conta corrente onde estou sempre em vermelho e, quanto mais o tempo
passa, mais cresce o meu débito. Transformei-me em um devedor crônico e eterno.
- Isso é
verdade. Estamos sempre ansiosos, achando que estamos ocupando nosso tempo com bobagens...e
ao mesmo tempo temos a sensação de que não existimos quando estamos offline. E
essa cerveja tá quente...garçon...traz uma gelada por favor...
- Pois é. Resta-nos a impressão desse tempo livre, porque
a vida que levamos nas redes sociais tem uma imensa intensidade temporal.
Quanto mais tempo você dedica de sua atenção às redes sociais, mais tempo sente
perder porque seu trabalho é considerado, por você, como produtivo. O tempo é
por princípio capitalista.
- Tá
vendo? Até o tempo é capitalista.
- É
normal que você pense e sinta que seu tempo deve ser usado para trabalhar e
produzir. Sentir que seu tempo foi entregue gratuitamente a uma empresa
capitalista, que se apoderaram do seu tempo para ganhar dinheiro e não lhe
pagaram nada por isso, é usurpação. Mas é o que acontece e você está sabendo
disso. Seu tempo não é remunerado é tomado gratuitamente para ganhar dinheiro.
- Filha
da puta esse Mark Zuckemberger hein? A gente trabalha de graça pra esse cara. É
uma espécie de escravidão. Somos escravos do cara. Esse cara é um ladrão.Vamos
pegar esse capitão de engenho.
- Que nada. Rs. Você está submisso e esta sujeição que
está fazendo você trabalhar de graça. O conteúdo que você produz é vendido em
um pacote de uso por muito bom dinheiro e você o produziu prazerosamente de
forma gratuita gerando para os donos dessas marcas que infestam o nosso
cotidiano, somas astronômicas. É a mais sofisticada forma de capitalismo. Na
verdade eles lucram com o seu conteúdo.
- Que
ódio. Preciso me livrar dessas tralhas eletrônicas. Precisamos nos
desintoxicar...
- Calma.
É certo que não podemos negar o valor dessas redes sociais, não resta a menor
dúvida sua utilidade. Mas a minha camisa, meus sapatos, minha bicicleta também
são úteis e as pessoas que produziram ganharam ao fazê-las porque eu paguei.
Mas na Internet é exatamente isso que fazemos: trabalhamos de graça e achando
muito bom fazê-lo.
- Eu
amanhã vou eliminar minhas contas no facebook, whatsapp, instagram, só no
redtube é que não.
- Para
com isso. Você está é bêbado!
- Bêbado?
Não tomamos nem 15 cervejas...
- Ninguém mandou beber com professor de história. Voltando
ao tema anterior, no século XII e XIII surgiu nas cidades italianas e do norte
da Europa o capitalismo chegando quase que imediatamente às cidades
hanseáticas. A isso se chamou capitalismo mercantil. Nesse tipo de capitalismo
a troca enriquece. Em outras palavras lhe fornece o que você precisa em troca
daquilo que você tem. Eu vendo um pouco mais caro o que comprei mais barato e
ganho algum dinheiro com isso.
- Parece
justo
- Mas esse
capitalismo que praticamos na Internet não oferece margem de lucro. A relação
com o tempo é nenhuma. É com a usura e o crédito que se enriquece. A época
de São Tomás de Aquino, século XIII, um período marcado socialmente por muitas
transformações, como a crise do sistema feudal, se discutiu bastante se
buscando saber o preço do tempo. Mas este pertence a Deus. A conclusão a que se
chegou, no século XIII foi de que o tempo não se podia comprar. Isso eliminava
de vez a usura e os juros que judeus agiotas costumavam cobrar dos seus
devedores. Não era um bom tempo para bancos e os consignados ainda não
existiam. O que se pedia emprestado se pagava com a mesma soma e tudo bem. Que
bom tempo... Sem banqueiros!
- E hoje
em dia?
- Hoje
em dia temos mais essa vertente do capitalismo, que vampiriza os nossos textos,
nossas vidas, banquetes, viagens, romances e tretas. Tudo compartilhado pra alimentar
o grande irmão...que resolveu morar nas nuvens...
(
DIÁLOGO INSPIRADO E ASSUMIDAMENTE COPIADO E COLADO - de texto do FILÓSOFO, PUBLICITÁRIO E POETA MANOEL PEREIRA. ESPERO QUE ELE NÃO ME PROCESSE...)