Gosto muito de jogar xadrez, dama, um
buraquinho, uma canastra. Uma coisa que vale para
todos os jogos é: jogou, não tem volta. Meu pai gostava de falar que carta não
tem mola, não volta atrás. Assim também são as palavras. Uma vez ditas ou
escritas, não tem volta. Podemos até nos arrepender, pedirmos desculpas, rever conceitos, mas o
que foi escrito ou feito ficará para sempre. Existe aquela técnica da Alemanha
de Hitler, de repetir certas frases à exaustão, até que se convertam em verdade. Isso pode até
acontecer em nível coletivo, mas não em nível pessoal. Se você agrediu, se
atingiu alguém com atos ou palavras, aquilo vai ficar que nem nódoa, fantasma assombrando e abalando a confiança. Isso
acontece por exemplo, quando duas pessoas se colocam em lados diferentes da política.
Cada um em seu bunker, despejando tiros, mandando mísseis sobre os inimigos. Só
que as guerras um dia acabam. E aí? O que fazer? Hastear bandeiras brancas e apertar
as mãos daqueles que queriam te esfolar vivo? Engolir as magoas e esquecer as
baixas, até mesmo os golpes na reputação, a covardia, a ausência de compaixão e
piedade, comuns em todas as guerras? Nunca estive em uma guerra convencional.
Não sei como é construída a paz. A ironia é que pode ser que do outro lado
estejam pessoas mais afins até que os pares de antes, mas com os quais não se
pôde conviver exatamente pelos rigores da guerra e pela completa ausência de
contatos com os integrantes do exército do outro lado. Sendo assim, finda uma
guerra, hora de revolver os escombros, de reconstruir e tentar se adequar ao
mundo configurado no pós conflito. Se haverá faltura ou fartura será
consequência das escolhas que se fez e das atitudes futuras, do que foi dito ou não dito e do posicionamento de cada lada...ah...e do seu
lado ser vitorioso ou derrotado. Se estiver no segundo grupo, poderá ser
cooptado pela nova ordem ou perseguido pela nova inquisição instalada. Só complementando, muito do que pensei, do que vivenciei está nas memórias do cenários. Nesse pequeno recorte de vida, vi gente boa se aviltar, vi pessoas que eram companheiras se descompanheirar da noite pro dia, vi muitos plots de uma novela de final não tão feliz. Agora, vai começar outra novela, com outros atores, outro enredo, outra cara. Nessa trajetória, adicionei novos amigos, acumulei alguns desafetos, outros que me ignoram completamente (antes assim) Alguns, como o Roberto cantou quer ter um milhão de amigos. Eu me contento com bem menos. Nessa trajetória, deixei de publicar muitos textos que estão na memória oculta do cenários. Ainda bem. Poderiam causar estragos. Aliás a publicação de um desses me custou muito caro. Fui aconselhado a apagar num momento de crise, mas não me arrependo de nada que tenha escrito, pois foram escritos no calor das batalhas. Como diz o rei, se ganhei ou se perdi, o importante é que emoções eu vivi...e vivo...e segue a vida...
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