ENQUANTO ISSO NAQUELA CASA DE FAMÍLIA
- Ô Jairo, você tem de dar um jeito na nossa filha. Ela só
quer saber dessa tal de internet.
- Deixa a menina, mulher. Ela tá aprendendo.
- Tá aprendendo o que? Ela só fica nesse tal de feicbut.
- Não é feicbut. É facebook...
- Ah...pra mim tanto faz. Ela tem de conviver com as colegas
dela, tem de sair daquele quarto...
- Deixa a menina, Jandira. Ela aproveita a internet pra
estudar também
- Mas que estudar que nada. Ela agora inventou que tá com
problema de bule.
- Problema de que?
- De bule. Engraçado que aqui em casa ela nem toma café.
- Peraí, mulher. Ela deve estar com problema de bullying.
- Sei lá...não sei pra que essas palavra inglesada...
- Espere um pouco. Mas então temos de conversar direito com
ela. Se ela está sofrendo bullying, a gente tem de conversar até na escola.
- Ah, home. Você sabe que eu sô da roça. Não entendo muito
essas coisas. Pra mim bule é pra colocar café.
- Olha, bullying é uma palavra inglesa que significa
agressão, humilhação. Chame a nossa filha lá que eu quero conversar com ela.
- JANAÍNAAAAAAAA
- Oi, mãe...não precisa gritar né?
- Você não tira esse fone do ouvido. Venha aqui que seu pai
quer conversar com você.
- Oi pai...bença.
- Deus te abençoe, minha filha. Me diga uma coisa. É verdade
que você está sofrendo bullying na escola?
- Ah pai. Deixa pra lá.
- Não filha. Não dá pra deixar pra lá. Você sabe que eu vivo
viajando, que às vezes não tenho tempo de cuidar de você. Mas faço questão de
ir à escola e conversar com seus professores.
- Não adianta pai. Eles vão ouvi-lo. Mas não vai acontecer
nada.
- Mas por que, minha filha?
- Por que não tem jeito. Meus colegas são assim mesmo. Eles gostam
de procurar defeitos na gente para humilhar. Não sou eu só. Tem outros colegas
que sofrem também.
- Mas não é possível. Deve ter alguma coisa que a gente
possa fazer. Se quiser eu converso com a diretora da escola que é conhecida da nossa
família.
- Não, pai. Se você
reclamar, depois as professoras podem me marcar e ai, além de sofrer com os
colegas, vou sofrer com a perseguição das professoras.
- Mas filha. Não é possível. Tem de ter alguma coisa que
possamos fazer...
- Tem sim, pai. Fale pra mãe não me proibir de usar a
internet. É o único lugar em que eu posso conversar com pessoas que pensam como
eu, em que tenho um espaço só meu.
- Mas filha. Na internet também tem muitas coisas perigosas.
A gente tem medo dos conteúdos, das pessoas maldosas.
- Pai. Confie na sua filha. E por favor. Deixe a escola pra lá. É uma
coisa que a gente tem de aguentar, que infelizmente não é agradável. É um lugar
onde as pessoas não tem uma convivência boa. Vão para competir, para humilhar.
Um lugar que a gente vai pra aprender a sofrer.
- Que isso, filha. Você está sendo muito negativa. Na escola
você aprende lições que vai levar para o resto da sua vida.
- Tá certo pai. aprender é uma coisa sofrida mesmo. Não
estou reclamando. Vou aguentar, pois sei que precisa. Mas por favor, não me
proíbam de fazer as coisas que gosto. O que eu posso fazer é tirar boas notas e
isso eu já tiro, não é?
- (suspiro)...claro, filha. Seu boletim tá excelente.
- Então, posso voltar pro meu quarto?
- Depois que me der um abraço...ahh
- Puxa, mãe. Você está chorando?
- Né nada não. É que eu tava descascando cebola.
- Sei...sempre durona a Dona Jandira.
- Meu amor. Acabei de almoçar. Tem um cafezinho fresco?
- Acabei de fazer. Tá no bullying em cima do fogão...
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