A água é veneno. Consumida em excesso, mata por afogamento. Tudo em
excesso é veneno. Tá certo que alguns venenos matam em doses menores. O curioso
é que algumas substâncias altamente mortíferas tem consumo incentivado e até glamourizado.
Por exemplo: todo mundo adora um churrasquinho. com muita carne gorda,
linguiças babando de tão gordurosas e muitas caixas de cerveja, não é? Ninguém
para pra pensar que se trata de uma combinação altamente prejudicial à
saúde, responsável por um exército de gordos e barrigudos. Mas quem vai abrir
mão desses prazeres? Vamos morrer pra lá. Outro exemplo de veneno liberado. É
sabido que os refrigerantes são altamente prejudiciais, que causam doenças
como a obesidade, reconhecidamente um dos maiores problemas de saúde pública dos
dias de hoje. Mas
quem vai abrir mão dos refris e das suas borbolhas refrescantes? E o Bacon? É
veneno para o coração vendido indiscriminadamente. Tem ainda as guloseimas,
cheias de açucares e substancias nocivas à saúde. Mas a cultura do consumismo incentiva
o pensamento do viver intensamente o aqui e deixar o depois pra depois. O
indivíduo pensa: - Ah, um dia vou morrer mesmo, então vou ser feliz é gora.
Perdeu-se a espiritualidade que nos tornava mais responsáveis pelo que fazíamos
com nossas vidas, antes considerados dons de Deus e, portanto, sob nossa
responsabilidade. O destemor do juízo acaba relaxando o arbítrio. Como disse o
Lobão em sua música “Decadence, avec elegante”, antes viver 10 anos a mil do
que mil anos a dez. Tá certo! No fundo é a própria vida quem vai nos matar para
que outras gerações nos sucedam. A única coisa que podemos fazer é tentar estender
um pouco mais o nosso tempo na terra através das nossas atitudes. Resta saber
se tanto sacrifício se justifica. Se você virar vegetariano pode ganhar alguns
anos a mais. Mas será que vale à pena trocar os prazeres gustativos por
um tempinho a mais de vida? Nem todos pensam assim. Tenho um amigo que é
fumante compulsivo. Ele diz estar ciente dos riscos de contrair um câncer, mas
não consegue fazer nada sem dar umas baforadas. Já tentou parar, mas concluiu
que a vida não anda sem o veneno cilíndrico. Ele diz que se a doença maldita
surgir ele dá um tiro no ouvido e adianta o encontro com a Morte, de forma rápida
e sem alarde. Quem sou eu pra dar conselho? A vida é dele. Quanto a mim, até
tento levar uma vida mais ou menos balanceada. Mas tô sempre caindo em
tentação. Somos frágeis “pecadores”, quase sempre decaindo nas armadilhas dos
desejos. Até consegui cortar alguns hábitos nocivos, mas não abro mão de alguns
venenos. Por exemplo, sou dependente de café. O grão já foi muito criticado no
passado. Diziam que fazia mal para os nervos e gerava uma insônia danada. Mas
parece que a mídia mudou de ideia. Ultimamente andam elogiando muito e
exaltando os benefícios do cafezinho. Segundo o que vem sendo divulgado, o café
dá um “up” na inteligência, além de nos deixar ligados, dispostos e bem
humorados. O Instituto Brasileiro do Café deve estar investindo muito em
marketing. Quando isso acontece, costuma do veneno virar remédio em pouco
tempo. Por falar nisso, acabo de ver uma propaganda da coca-cola. Muita gente
divulga que o refri tem caloria demais, mas a coca já divulga que contém é energia
para viver a vida. Questão de ponto de vista. E você. Vai acreditar em quem?
Nos cientistas chatos que vivem prescrevendo proibições ou nas maravilhosas
propagandas da coca? O marketing adora vender veneno. Freud explica. Tem a
pulsão da morte, uma espécie de tendência suicida que nos acompanha desde sempre.
Alguns a exercem de forma radical e vão às vias de fato. Se jogam de cima de
pontes ou utilizam inacreditáveis clichês para dar cabo da vida. Outros se
matam aos poucos num suicídio lento. Pra mim o que mata mesmo é a hipocrisia.
As autoridades proíbem alguns venenos por considera-los prejudiciais aos
indivíduos e a sociedade, mas qualquer um pode comprar refrigerantes, álcool ou
mesmo soda-cáustica em qualquer supermercado ou drogaria. Só veneno liberado.
Prejudicial mesmo é o consumo em excesso, o lixo que acumulamos por cair nas
armadilhas do capitalismo, lixo que acumulamos tanto em nossos ambientes como
em nós mesmos. E vou parando por aqui pra tomar uma xícara de veneno
fumegante.Estão servidos?
Concordo com voçê,nesta crônica de veneno liberado.Mas tenho a acrescentar: e os venenos não liberados,mas utilizados indiscriminadamente por nós, tais como as drogas? E os venenos não liberados, das fumaças tóxicas,da poluição de chaminés,de automoveis,e outras mais que os governantes insistem em não ver?
ResponderExcluirAh!,no tempo de meus avós, não existia refrigerante,poluição cigarro industrializado,e outras coisas mais como conservantes alimentares,mas existia fumo de rolo, cobras,e outros animais que também matavam, como encontrar-se por exemplo com uma onça pintada. Quer veneno maior? Apenas mudamos os nossos jeitos de exterminio.