Estava na rodoviária de Monlevade esperando a hora da saída
do ônibus para BH, quando aproximou-se uma pessoa e perguntou se eu era Marcos
Martino que escrevia no jornal Bom Dia. Falei que sim! A pessoa falou que lia
sempre a minha coluna e perguntou se
poderia sentar-se para batermos um papo. Ele praticamente me entrevistou:
- Martino. Você tem medo da morte?
- Da morte não. Tenho medo é da obsolescência.
- De obso...o quê?
- Obsolescência...medo de ficar obsoleto, ultrapassado.
- Ah...mas você está sempre se atualizando, é moderno...
- Que nada. As culturas vão sendo substituídas, novas tintas
são utilizadas. Já viu aquelas paredes que a gente vai descascando e percebe
que existiram várias camadas antes?
- Mas você é um cara antenado nas novas tecnologias, na
internet.
- Mais ou menos. Aprendemos a viver num mundo analógico,
linear. Já trabalhei com as excelentes máquinas Remington de datilografia. Já utilizei máquinas de calcular de
manivelas. Escutei música nos velhos toca-discos de vinil. Depois tive walkmans
que utilizavam fitas k7. E tudo ficou obsoleto. Temos outro mundo hoje.
- Pra você, o mundo tá pior ou melhor?
- Não sei dizer. Parece que as pessoas tem uma vida mais
confortável, que todos são mais bem informados, que a tecnologia iguala as
pessoas, mas sei lá. Sinto que as coisas estão mais superficiais.
- Como assim superficiais?
- As pessoas leem pouco,
ouvem músicas sem se aprofundar nas letras e nos arranjos, não conseguem
enxergar valor artístico em um quadro ou em uma dança, enfim, só tem valor o
que é popularesco.
- Mas não seria uma dessas crenças do tipo “antigamente é
que era melhor?”
- Pode ser. Pelo menos estamos vivendo essa época de
transição e por isso temos como comparar. Os que nascem hoje em dia não tem nem
parâmetros para comparações.
- Você tem medo do tempo?
- Tenho arrepios é quando ouço a palavra idoso.
- Mas não acha bom ter mais experiência, mais sabedoria?
- Sabedoria para entender que já não protagonizamos nada.
Somos figurantes no mundo que é dos jovens. Além do mais, essa palavra idoso já
carrega em si uma despedida.
- Como assim?
- Idoso é posição daquele que já foi, um ser ido...que
está indo pro cemitério. O famoso pé na cova
- Você prefere melhor idade?
- Prefiro nada. Hipócrita demais. Melhor idade é dos 15 aos
26. O resto é relação.
- E sobre a morte?
- Inexorável...ainda se tivéssemos certeza sobre o que vem
depois...
- Mas não acredita na vida após a morte ?
- Se houver sairemos no lucro. Se não houver, não teremos
tempo de nos arrependermos por termos acreditado.
- Mas você não acredita em Deus?
- Acredito sim. Acho que existe um princípio ordenador e a
humanidade sempre intuiu a presença do sagrado. Só não sei qual a cara, o nome,
a pátria de Deus.
- E sobre política? Em quem você vai votar para a
presidência da república.
- Olha lá, meu ônibus chegou...tenho de ir...valeu a
conversa, hein? Tchau...
- Peraí...e a minha pergunta?
- Vamos fazer o seguinte? Falar de música, de cultura,
filosofia, de poesia. Pra falar de política já tem gente demais.
- Vai fugir do pau?
- É claro. Do pau eu quero é distância. Basta o meu.
- Não entendi...
- Até mais...e continue lendo a coluna...e se der, vamos
interagir na internet. Tchau...
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