sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

REFÉNS DA NUVEM


REFÉNS DA NUVEM

E eis que migramos todos pra nuvem. Mas que danada de nuvem é essa que ninguém vê mas comporta tudo? A música tá lá, os filmes, a literatura, as nossas conversas e micro-debates no facebook, no zap, nossas fotos, o que comemos, o que vestimos, por onde andamos. Nossos rastros esculpidos na colossal e infinita caverna. E qual o lugar da arte nessa imaterialidade toda? Eu sempre achei curioso o termo patrimônio imaterial. Mas como tudo na nuvem, até a palavra patrimônio perdeu o sentido. Tá lá a nuvem colossal sobre nossas cabeças.  Eu fico até pensando. As novíssimas gerações leem livros físicos? A cada dia menos né? Vai tudo ficando pra trás, livros, cds, k7s, papéis e revistas, jornais, gibis. A galera acessa tudo nos seus smartphones. Uma saraivada de assuntos, pouco conteúdo profundo, muita opinião rasa, pouca razão. O mundo em 10 segundos. Eu fico pensando no pessoal das artes plásticas. Como ficam as texturas, as tintas, a madeira boa pra escultura, a argila? Como fica o tangível, as formas, os volumes? Não, isso não funciona na nuvem. Mas tem outras artes, artes gráficas, 3-D, instalações artístico-tecnológicas,modinhas voláteis até a próxima modinha. E como fica o cinema? Uai...tudo no streamming. Tudo na telinha. O que já foi feito e o novo. Atemporal, mas instantâneo. A cada dia o mundo pede mais velocidade e otimização de tempo. Quem conseguir fazer filmes de 30 segundos vai bombar no mercado. Menos é mais. Tudo é demais. E a novilingua vai se expandindo. E a música? Essa foi totalmente aviltada primeiro pelo CD, depois pelo wave, mp3 internet e hoje em dia, na nuvem. As pessoas não tem nem parâmetros pra avaliar qualidade sonora. Ninguém liga. As pessoas comuns ouvem em suportes menores, nos celulares, pequenas caixinhas sem grave. Alguns ouvem com fones, mas a grande maioria tem como suporte apenas seus smartphones. Para os músicos, céu e inferno. Detesto ficar rezando o mantra de que antigamente era melhor. Mas até que era realmente legal quando os graves eram graves, quando havia liberdade para solos de guitarra, a música não era nem sincada nem formatada em células de estrofe refrão. Isso quando não é só refrão. Pro tiktok só precisa de alguns segundos de música pra fazer coreografias e mímicas engraçacinhas. Existem diversas plataformas para vc divulgar seu conteúdo. Se pagar, tem probabilidade de chegar em muita gente. De forma orgânica fideliza mais, porém gasta muito mais energia e o prazo é bem maior. Vai depender do conteúdo. Se for bom e tiver relevância, o público ajuda a carregar. Mas o músico não tem mais algo palpável pra vender. Quando ainda tinha CDs ou Lps havia materialidade e produto. Na área da dança, muitas dificuldades pelos motivos da maioria dos esportes e da música. Tem a prática individual que pode ser praticada em particular. Mas tudo que é coletivo vem sendo execrado. A humanidade usa a NUVEM como um gigantesco HD. Fico imaginando se esse HD queimar...ou for formatado...

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