Ser artista nunca foi fácil. O artista é um rebelde por natureza, mal visto pela sociedade, sempre visto como subversivo, moralmente desregrado. Predomina desde sempre a velha fábula da formiga e da cigarra, onde as formigas laboriosas e moralistas não consideram o labor do artista como trabalho, mas como lazer, diversão. Por isso tem sempre gente rotulando os artistas de vabagundos, bichas, maconheiros. Certos comportamentos sociais são contraditórios. As pessoas vão aos shows, usufruem dos trabalhos dos artistas, mas ainda assim tem aqueles que acham que artista não é profissão. Os bem sucedidos, podres de ricos, são venerados. Mas ainda assim tem-se a impressão de que os artistas vivem em eternas férias, curtindo a vida enquanto os outros trabalham. As pessoas não tem noção do sofrimento dos artistas. No andar de cima até existe alguma fartura. Mas no andar de baixo, os não famosos são humilhados e sub remunerados. E muitas vezes o sujeito hiper talentoso tem de amputar a arte de si. As vezes o menino nasce com dom pra arte, mas o pai pensa: - ah, meu Deus. Essa profissão não dá futuro pra ninguém. E maldiz o talento, busca provar com argumentos sólidos que não se deve arriscar. Melhor ter emprego normal, ser assalariado ou abraçar profissões rentáveis. E o compele a se formar advogado, médico, dentista, qualquer coisa que o deixe livre do impulso artístico. Assim como tem a cura gay, tem pai que quer que o filho seja curado da maldição da arte, parar com essa bobagem e partir para um emprego de verdade, desses que a gente trabalha 8 horas por dia, rala e enrica o patrão. E pra completar o calvário, temos o aviltamento do mercado, que valoriza uma sub arte de baixíssimo nível, fisiológica e escatológica, em detrimento da arte reflexiva e arrebatadora. E para o caso da música, temos os DJs, os funkeiros e os VS pra ocupar os palcos e tirar o emprego dos bateristas, baixistas, guitarristas. E isso tudo com a inteligência artificial chegando pra invadir a praia deles também. Mas fazer o que? A gente nasce com o dom e esse dom nos move. E o prazer de compor uma canção ou tocar um instrumento, se não é orgasmo, chega perto. Então, meus caros formigas, abram alas pras cigarras, aproveitem o baile, dancem, cantem e paguem o couvert sem reclamar. Se reclamarem, mando chamar o chefe tamanduá pra dar uma enquadrada em vcs.
Ótimo texto! Parabéns
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