Antes de falar do livro, preciso falar um pouco do seu autor, Marcos Lizardo. O conheci por intermédio da atriz e produtora Carla Lisboa que sempre falava do Marcão pra cá, Marcão pra lá. Eu ficava querendo saber quem era aquele barbudo. O conheci na época do Sarau Poético do 7 Faces. E mais recentemente fui ao lançamento de seu livro ERRANDO POESIA na CASA DE CULTURA de João Monlevade. Ver o Lizardo em ação, falando de seu fascínio pelo objeto livro, vendo o brilho em seus olhos, me lembrei de outros poetas que conheço, poetas de tempo integral, até pra escrever no zap, mandam mensagens encantadas. Lizardo é poeta em tudo que faz. É ártifice de palavras, de pinturas, de artesanato, de ideias. É paulista, bebeu da água da paulicéia desvairada, com aquele pragmatismo todo e fincou pé em Monlevade, onde a mineirada costuma receber bem. Foi um casamento poético que se deu pelas palavras. Casou-se literalmente com a cidade e com uma Monlevadense também artista, e montou o coletivo Atreslié, virou ativista cultural e marca presença na maioria dos eventos culturais da cidade.
A RESENHA
Vou fugir do estilo tradicional, de dissecar, analisar. Vou pela via do encadeamento de ideias a partir de uma releitura do livro. O nome já é sugestivo...”Errando Poesia”. Errar é o que nos faz humanos. Errar poesia me lembra aquela letra do Marcelo D2, “a busca da batida perfeita”. Antes de chegar a essa batida perfeita vem a disritmia, compassos desencontrados, notas fora do lugar, desafinações. Só errando pra depurar, tentativa e erro. Para o Lizardo, o poeta anda a esmo na beira do Precipício. Mexe com a palavra como quem enfia a mão num vespeiro. Tem na poesia uma arma alquímica, materializando sentimento encarnado. Demonstra vontade de gravar na pedra sua relevância. Não é fácil ser fóssil. Sente a dor e entesoura palavras. Em sua saga, vai brincando com a vida, que brinca e que fere. E advem a solidão que não cabe nesse mundo. Abre a torneira e deixa aberta até acabar a agua. Pensando bem, melhor fechar a torneira. Se bem que se transbordasse poesia, seria uma providencial asfixia. Prefere as palavras fáceis. Trafega entre o otimismo e o desencanto. Faz poesia sem descanso. Por que não suporta o silêncio que não faz. A vida, sempre por um triz. Choremos pelo medo que paralisa. É cedo pra fugir, ainda que a solidão seja uma guerra. Talvez a poesia seja, tudo que na vida sobeja. Uma palavrada na cara. Pra que pressa? Se a morte é o final do caminho? Se a morte é certa e a vida incerta? É preciso coragem pra tocar o fogo...e tocar fogo na alma. E queimar nos infernos particulares. O menino domado pela vida cruel, sofre confinado numa vida comum. Precisamos sentir, antes de saber. Quem sente sabe e nem sempre quem sabe sente. Cumpre-nos odiar a falta de amor. Afinal, o amor não tem medo nem vergonha. Gera poemas e cartas de amor ridículos. Viver é olhar com persistência com os olhos do espírito. Mesmo estando longe de tudo que não somos mais, somos o que flui e que se esvai. Porvir na medida em que se faz. Os espaços estão preenchidos, tudo lotado. Ainda bem que é delírio. Se acordarmos, morremos. Tudo passa e os infernos são internos. Suportamos e as vezes perpetuamos os maus tratos As fotos vão amarelando até sumirem e virarem pó. Ninguém conhece os tataravós. Todos mortos e cancelados nas profundas camadas. O tempo é senhor do esquecimento. Nossas fraquezas são como o queijo da ratoeira. Cada um é seduzido por iscas diferentes. Sidartas suicidas morrem de alumbramento. Sobre a natureza das coisas, precisamos descoisificar pra reequalizar. O que resta é o amor louco e a esperança tola. Qual Dom Quixote e seus Sanchos. O poeta faz uma ode à sua casa, seu casulo, suas coisas, suas família, seus gatos, seus livros, tintas e finaliza com uma poesia-pergunta: o que faremos? Resposta fácil: continuaremos errando poesia...