
Aconteceu em Monlevade, na noite de sexta-feira passada (28-09-2024) um evento quase invisível, não percebido. Ainda bem! Não se assustem. A escrita não é linear. Mas pra falar com os seres que estiveram presentes, não preciso disso. Só de afeto e uma boa dose de subjetividade. Algumas pessoas passaram de carro ao redor da praça 7. Olhavam mas não paravam. Deviam comentar: - Nossa...parece um culto. Deve ser um culto.- Mas como assim um culto, se tem um tambor lá no meio? Deve ser macumba. Só pode! Eles não erraram totalmente. Era um culto.O culto dos cultos. Engraçado que a palavra culto, precedida pelo pronome, se unirmos, vira oculto. Mas não! Não foi oculto! Prefiro o quase invisível ou não entendível. Na verdade foi um evento que fez parte do concurso literário faces do médio piracicaba. Foi divulgado na internet, em alguns espaços. Mas com os ruídos eleitorais, pouca coisa tem sobressaído. Ainda bem que foi um público pequeno, só de amigos e amantes das artes. Estiveram presentes apenas pessoas sensíveis, que amam poesia, literatura, reflexões, humanidades. Pra quem não é do ramo, seria tedioso. Pra quem sintoniza na frequência, eu diria que foi uma noite feliz e não era natal. A Carla Lisboa escreveu que saí de BH para participar. E ela e o Márcio que vieram de Palmas? Mas valeu muito à pena. Mais que ir a meca. Cheguei atrasado. Pra variar, a 381 entupida, ônibus da gontijo saiu com atraso de 15 minutos, sem nenhuma explicação para os usuários. Cheguei no GRAAAL...não tinha taxi. A Vivo tava fora do ar. O que fazer? Filei a internet do GRAAL e consegui falar com a Carla que foi me buscar com o Márcio, gente boa pra caramba. Eu tinha dito a ela: - Carla, estou enferrujado. Não subo num palco há alguns séculos. Vou fazer um fundo lá, vamos ver o que vai sair. Vc só precisa arrumar um violão. O Márcio comprou um novinho. Fiquei com medo de desafinar, por causa das cordas novas. Que nada! Afinadinho e com boa tocabilidade. Outro pepino: Carla pegou som emprestado com o James. E me falou: - Aí Martino. O som tá ai. Agora tem de montar. Vc entende né? E eu com cara de tacho. Sou muito desajeitado com essas coisas. Mas fomos plugando daqui, apertando botões acolá e no final deu certo. E o evento começou. A Carla abriu o evento, pessoal recitando as poesias. Liguei o violão e comecei a tocar timidamente. Sentia a ferrugem travando. Mas à medida que fui tocando, a ferrugem foi cedendo. Quem toca sente o público nos olhares e sorrisos. Quando comecei, ouvia bolhas de interrogação estourando. O som não tava bom. Violão mais alto que a voz. Até que fomos equilibrando e fui tomando coragem. Ousei cantar as autorais e vi nos olhares que o público tava aceitando bem. Ufa. Ainda bem que não foi muita gente. Se tivesse gente demais, não poderíamos improvisar, eu não poderia tocar minhas músicas, pois o pessoal ia querer as músicas da moda, sertanejos, pisadinhas, Marília Mendonça e congeneres. E não conheço nem tenho vontade de conhecer.

E começaram as declamações. Que lindeza. As pessoas declamaram poesias vencedoras do concurso. Depois veio abertura para poesias de grandes poetas. Devo registrar a presença do candidato a vereador Guiherme Mototaxi, único político presente e seu irmão Marcelo Sputnik. Teve ainda brechó de livros. Conheci a tribo do 7 faces. Olhos faiscantes de uma turma que vibra com a arte. Sheila Malta foi minha memória de aluguel. Ela lembra letras das músicas e fica soprando pra mim. Sheila é da tribo.
Uma coisa curiosa. Uma menina,morena, novinha, tava com seu pessoal, mas com fone de ouvido. Pensei comigo: Puxa. Essa menina está aqui mas não está. Não tá curtindo. Fiquei bolado. Mas eis que ela se levantou e pediu o microfone. Se confessou tímida e mandou versos próprios. Que maravilha. Que bom ver gente muito jovem fazendo arte. Me senti vovozão. Um vovozão feliz.

Marcelo Sputnik buscou seu tambor e ai o trem ficou melhor. Tocamos alguns forrós e improvisamos enquanto o pessoal declamava. Não é que ele é bom músico? Ele conseguia acompanhar as minhas viagens ao violão. Criamos brincando um bocado de músicas ali na hora. Curti tocar com ele. A noite transcorreu e quando percebemos, já era hora de parar. Fiquei feliz quando a menina novinha, aquela ligada no hiphop, se aproximou e me falou: - sua arte é muito linda. Foi o elogio mais sincero que eu poderia esperar. Renovei meu estoque de felicidade. Acho que eu era o mais véi do pedaço. Foi delicioso ver que tem uma galera jovem que tá fazendo coisas legais e vai levar adiante o legado. A Carla me falou o nome do movimento dessas meninas umas 4 vezes e esqueci. Coisa de véi. Quero conhecer mais.

Teve também a apresentação da dupla Luiza e Gabriel. Afinação e sensibilidade. Que delícia. Eu fiquei apaixonado pelo 7 faces. O valor que essa turma tem deve ser exaltado. Aproveito até para dizer algo que eu já intuo de outras produções que ficou mais claro ainda. As prefeituras, as instituições estabelecidas devem fazer cultura e fazem. Mas não abarcam tudo. Tem de ter gente pra fazer arte independente, não alinhada, pra dar vazão aos não contemplados pela chamada cultura oficial. E tem eventos que não tem de ter lotados. Tem de ter gente que goste e curta. Quem não gosta ia ficar de saco cheio e sair falando mal. Não dá pra lavar a alma com gente insensível por perto. Outra coisa: pessoal do 7 faces também faz eventos para públicos maiores, mas sempre buscando sensibilizar, levando até o público atrações não convencionais, instigantes, fora do eixo. Será que faltou alguma coisa pra dizer? Talvez um muito obrigado. A felicidade é artigo raro hoje em dia e naquela noite, fui feliz!
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