Para muitas pessoas, a arte e a cultura ainda são atividades alegóricas, que fazemos nas horas de folga, num intervalo entre um trabalho e outro. A maioria não as considera atividades de formação, mas de entretenimento puro e simples. Muitos dos que exercem atividades culturais e artísticas, também não as faz com um sentido de sobrevivência, mas de passatempo, como algo que se faz como hobby, como distração. Para piorar um pouco a situação, alguns artistas se dão a licença da irresponsabilidade como estilo de vida, os excessos como fontes de inspiração, da autodestruição como glamour, quase como requisito para a transcendência, para o nirvana artístico. Por essas afirmações, constrói-se uma idéia muito marginal dos artistas, de pessoas que vivem no mundo da lua, à margem da lida objetiva, que não conseguem construir nada sólido, nada de aproveitável, nada que edifique. Ledo engano. Esses preconceitos não se sustentam na realidade capitalista. Se formos pensar bem, o principal produto de exportação dos Estados Unidos é a cultura. Alguém duvida que Hollywood tem mais poder de fogo que todo o arsenal atômico americano? Foi através de Hollywood que os Americanos conquistaram realmente a hegemonia mundial. Sob o ponto de vista artístico cultural eles são realmente profissionais ao extremo. Os artistas de lá estudam música, interpretação, dança, marketing, enfim, tudo que diz respeito a administração das carreiras. Já foi o tempo em que era bonito o artista se afundar nas drogas e levar uma vida louca, sem saúde, sem juízo. É lógico que ainda existem exceções à regra. Um escândalo sexual aqui, uma internação ali gera publicidade, factóides, alavanca vendas. Mas o maior volume de produção é de artistas ultra profissionais, excelentes músicos, seres humanos normais que levam a carreira a sério e se cuidam, se concentram como os jogadores de futebol, ensaiam muito, ralam como ginastas olímpicos para bater seus próprios records, enfim, procuram ser muito bons no que fazem. Sei que muitos românticos vão querer me crucificar com a velha máxima de que a arte só brota do caos. Pode até ser. As maneiras de se “psicografar” os espíritos da arte, cada um encontra como pode. Os caminhos que levam ao nirvana são vários. Mas os 99% de transpiração são necessários e imprescindíveis. Sem profissionalismo, quase nada vai à frente
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