
O principal objetivo dessa coluna é dar uma panorâmica na cena cultura da nossa região, mas na medida do possível, também passar algumas reflexões que considero importantes pra quem tá começando. Uma coisa curiosa que eu estive pensando é o seguinte: o CD, que muitas vezes pode parecer o auge de uma banda, que praticamente sacramenta uma trajetória, muitas vezes também pode significar o seu fim. Se formos fazer uma avaliação estatística, tenho certeza que teremos uma brutal confirmação do que estou dizendo. As razões para isso são várias. As bandas até chegar ao CD, quase sempre tocam em seus shows um repertório misto, composto por 70 a 80% de covers, completando uma pequena parte com músicas próprias. Quanto começam a planejar o CD, começam a aumentar o número de músicas próprias no repertório. O processo de gravação é quase sempre muito doloroso, entre a própria captação de patrocínios, burocracia, escolha de repertório, produção de capa e encarte, uma trabalheira enorme. Na maioria das vezes, as bandas não conseguem o suficiente para bancar toda a produção e acaba que sobra para os membros uma despesa considerável que tem de ser rateada. Assim, depois de muita ralação, o CD fica pronto, para alegria e orgulho de todos. Ai marca-se o dia de lançamento e é criada a expectativa da venda de um número considerável de discos. Até que no dia do lançamento vende-se razoavelmente. Na maioria das vezes, 30% do total imaginado. Com o dinheiro, a banda aproveita para pagar o restante da dívida e tudo é animação. Só que depois, sobrevém certo relaxamento em função da pressão anterior. Quando a banda retoma os trabalhos, será hora de tentar execução em mais rádios e distribuir nas lojas. Tudo tem de ser consignado, afinal, a maioria dos lojistas não está adquirindo mais nas mãos das gravadoras, preferindo ser mais seletivos. O resultado é que as vendas vão devagar, quase parando. A banda tenta vôos um pouco mais arriscados. Consegue um representante na capital, que se propõe a levar o CD nas rádios. Só que nas rádios principais, tem de pagar, senão não toca. O mesmo acontece com as TVs e os preços são enormes, maiores até que a própria produção do CD que já consumiu um capital considerável. As rádios locais até tocam, mas não é suficiente. A banda precisa expandir seus horizontes além da própria aldeia. O problema maior agora é que os músicos só tem prazer em tocar as próprias músicas. Não tem vontade de tocar covers. A motivação anda baixa. Como o trabalho foi muito exposto na mídia regional, outros grupos da região começam a especular e a fazer ofertas para alguns músicos da banda , convidando para irem tocar com elas por um cachê 3 vezes maior do que recebe. Lá vai mais um roqueiro tocar sertanejo ou axé. Pra completar, algum amigo(da onça)pega o CD recém-gravado e disponibiliza na internet de graça para quem quiser baixar. Pessoal, tô escrevendo esse artigo, que à primeira vista parece pessimista, mas tem ai muitas pistas sobre coisas que aconteceram com muitos e muitos artistas, inclusive comigo. Cada caso com suas particularidades, mas coincidentemente tive dois trabalhos que chegaram ao fim logo que os CDs foram lançados. Primeiro aconteceu com o grupo Verde Terra de Alvinópolis. Tocamos de 1980 até 1987 quando lançamos nosso LP. Pouco depois que lançamos, o grupo interrompeu seus trabalhos. Com o República dos Anjos aconteceu algo parecido. Começamos em 1988 e fizemos muitos shows até 1998, quando lançamos nosso CD. Lançamos e pouco tempo depois a banda parou. Não que tenhamos nos desentendido. É que tratava-se de um trabalho próprio e não tivemos dinheiro para divulgar e começaram a pintar propostas muito boas para o guitarrista, que foi tocar com Sideral e depois com Sandy e Jr. Aqui em Monlevade, a banda CALK também teve uma trajetória muito interessante, até chegar ao CD. Mauro Martins também sumiu depois do CD (gostaria até de saber onde ele anda). Repito o que eu já disse: cada caso é um caso e tem também os vários “cases” de sucesso. Porém penso que levantar a discussão ajuda o pessoal a refletir e até a prevenir algum dos problemas elencados. Empresários que saibam administrar, disciplina, profissionalismo e marketing intensivo ajudam, mas são raros principalmente entre os artistas. Outra coisa a se considerar é a própria morte anunciada da mídia CD, que hoje serve muito mais como portfólio de trabalho do que como produto de venda. Por outro lado, hoje todos têm a Internet para divulgar e quem souber trabalhar direito pode tecer uma rede eficiente. O problema maior é conseguir se destacar em meio a uma constelação de infinitas estrelas.
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