Ela pediu para que não aparecesse o rosto para se preservar
Estava eu na rodoviária de Monlevade pensando no quando ficou longe. Pensava com meus botões: - Puxa vida! Que falta de interesse no conforto dos usuários do transporte intermunicipal. Quando a rodoviária era dentro da cidade tudo era mais fácil. Depois que mudou para pertod o Posto Graal tudo ficou mais complicado. Os ônibus quase sempre demoram e os taxis não são baratos, Trabalhou-se para piorar a vida dos usuários, essa que é a verdade. Pelo menos se a s empresas de ônibus tivessem tido a sensibilidade de abrir uma central de vendas de passagens no centro, pelo menos as pessoas poderiam comprar passagens antecipadas. Mas infelizmente foi feito desse jeito e parece que não vai mudar tão cedo. Pois é, mas estava eu lá na rodoviária pensando na vida, quando de repente vi passar por mim uma pessoa com o rosto familiar. Em princípio, não consegui identificar, mas era uma mulher de meia idade, usando jeans e falando ao celular. Fiquei na minha observando e tentando me lembrar. Foi quando ela me viu, sorriu e acenou. Fiquei meio atrapalhado, sem saber se ela ria pra mim ou de mim, sei lá. Mas ela foi terminando sua ligação ao celular e se aproximou.
- Olá....tudo bem?
- Uai...tudo...bem...e você?
- Ah...vou bem também...quer dizer...mais ou menos, né?
- Mas...mais ou menos por que?
- Ah...eu tenho uma história de vida um pouco triste.
- É mesmo? Eu seria indiscreto te perguntando por que?
- Não. Eu já estou acostumado com a sua perguntação mesmo.
- Mas...como é que é...mas eu...
- Não se lembra lá no centro, perto da caixa econômica?
- Mas você? Não é possível!
- Sou eu mesma...a vidente.
- Caramba...bem que eu vi que tinha algo familiar. Mas você está...
- Sim...pois é...não sou uma cigana à moda antiga. Mas se eu não me vestir como cigana na hora do trabalho, ninguém me procura.
- É...tem razão...mas puxa...eu nunca saberia que é você.
- É que sou filha de cigana com um jornalista e por isso transito entre os dois mundos. Está decepcionado?
- Não...de jeito nenhum...mas onde você está indo?
- Estou indo para Belo Horizonte e depois para Contagem...mas deixa eu te contar uma coisa. Você me botou numa fria viu.
- Uai. Por que?
- Ah. Foi falar no jornal e no seu blog sobre aquela previsão do jogo do cruzeiro. O que pintou de pessoas me xingando.O pior é que xingam minhas colegas também. Chegam e perguntam: - por acaso, você é a cigana do Martino?
- Puxa. Me desculpe. Mas também né? Você sabia sobre os roubos do juiz?
- Olha...uma cigana tem uma boa noção de probabilidades e uma boa dose de intuição. Eu quase nunca erro.
- Pois é. E você está ficando famosa viu. Até o outro jornal está falando de você.
- É mesmo? Mas deve ter falado mal, né? O outro jornal não é aquele que só fala mal?
- É verdade. Eles agora insistem em insinuar que tenho preconceito contra os negros. Acho que vou ter de tirar as palavras negro e preto do meu vocabulário. Toda vez que as uso eles implicam comigo.
- Ah. Não liga não. É que eles odeiam as minhas previsões. Eu entendo. É que eu sozinha previ que o prefeito não seria cassado. Até gente muito próxima não acreditava, mas eu tinha certeza e deu no que deu.
- Mas então, como você quase sempre acerta, acha mesmo que o Cruzeiro não vai ser campeão?
- Infelizmente as probabilidades são essas.
- Triste isso viu. Todo mundo quer previsões boas.
- Infelizmente, a vida é assim...se ganha e se perde.
- Mas me conte aqui. O que você vai fazer em Contagem? Aquele lugar é feio demais.
- Olha. Eu vou lhe contar, mas não conte pra ninguém, ouviu?
- Pode deixar.
- Eu vou até a penitenciária visitar o meu namorado. Ele se envolveu numa roubada e tá lá. Não vou abandoná-lo de jeito nenhum.
- Mas o que aconteceu com ele?
- Infelizmente ele se envolveu com drogas. Dizia que tava vendendo só por uns tempos pra juntar dinheiro pra gente casar, mas alguém o dedurou e ele dançou.
- Que barra, hein?
- Barra mesmo. Ele é muito gente boa e não merece o que tá passando. Mas fazer o que né?
- Tome aqui o lenço. Enxugue as lágrimas. Ah. Quer saber? Pelo menos você tem um amor. Quanta gente no mundo não tem esse tesouro?
- Puxa. Ainda bem que encontrei uma pessoa que me entende.
- Fique tranquila. Assim que ele tiver a liberdade vocês constroem a vida de vocês. Amor é que não vai faltar.
- Obrigada, viu? Agora tenho de ir, pois meu ônibus já encostou.
- Mas peraí...deixa eu abusar só mais um instante de você.
- Pois não...
- Quem matou o Saulo na novela das 8?
- Você está brincando comigo...
- Só pra descontrair. Mas não desapareça não, viu...
- Tá legal. Agora vou indo que meu ônibus está saindo. Tchau!
- Peraí que vou ver se encontro lugar nesse ônibus também. Nada mais seguro que embarcar num ônibus com cigana.
- Mas por que?
- Uai...se fosse ter acidente, você veria antecipadamente e não embarcaria, não é mesmo?
- Você é esperto, hein? Agora pensou como cigano. Mas não vou te enganar não. As probabilidades nessa 381 são altas...
- Ah...mas não temos escolhas.
- E no meu caso, como estou apaixonada, atravessaria rios de lava incandescente e atravessaria tsunami a nado para encontrar o meu amor.
- Fechou!
É Martino, c tá assistindo a novela do SBT, Ana Raio e Zé Trovão. Acho que a sua cigana é aquela da "canequinha", rsrsrsrsrsrsrs,abraços.
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