O Blog Cenários foi ouvir o
advogado e ex-prefeito de João Monlevade, Gustavo Prandini. Gustavo hoje reside e trabalha em Juiz de Fora, mas teve a generosidade
de participar desse bate-papo comigo, onde fala sobre diversos assuntos,
inclusive clareia sobre boatos recorrentes que tem saído na mídia. Mas
vamos à entrevista.
CENÁRIOS - Existem vários
boatos sobre candidatura sua a prefeito em 2020. Já falaram que vc iriam para o
PC do B, também chegaram a citar o PSB.
Agora falam do PT. Enfim... tem alguma conversa mesmo ou são
especulações?
GUSTAVO PRANDINI - Primeiro
quero te agradecer a oportunidade de falarmos. Curiosamente, a gente se
conheceu pela internet e trabalhamos juntos por um tempo. Então, pra mim é
simbólico que mais de 6 anos depois de minha última entrevista como prefeito,
eu venha a ser entrevistado à distância, pela internet e exatamente por você. E
já te respondendo, eu estou há 6 anos sem partido político. Neste período, tive
a oportunidade de manter contato com pessoas de vários partidos. Surgiram
convites para filiação, mas eu estava em outro momento. Sobre a política em
Monlevade, este ano alguns amigos começam a propor uma reflexão
sobre voltar e pensar em uma candidatura. Estive com algumas pessoas, eu
procurei mais ouvir, entender, refletir. Tenho amigos em Monlevade em vários
partidos, não somente nestes 3 que você citou. Mas não tive reunião formal com
nenhum ainda, até porque minha prioridade hoje é minha atividade profissional.
CENÁRIOS - Logo que acabou o
seu mandato, vc mudou-se para Juiz de Fora, onde foi trabalhar na Prefeitura.
Como é a vida na Manchester Mineira? Você se adaptou bem? Aprendeu muito com os
conterrâneos do Itamar? Avalia ficar por aí mesmo...ou o retorno à Monlevade
realmente está nos planos?
GUSTAVO PRANDINI - Vir para
Juiz de Fora a trabalho foi uma oportunidade muito interessante e muito
natural. Monlevade sempre acolheu muita gente de fora que aí chegou para
trabalhar e ficou. O inverso também acontece, tenho amigos de escola daí que
hoje moram em todo canto do país e até mesmo em outros países. E gosto muito de
Juiz de Fora, estou adaptado, aprendi e continuo buscando aprender a cada dia.
A vida é isso né, aprender, sempre. Os 6 anos em que trabalhei na Prefeitura
daqui foram muito importantes para mim. Mas voltar é possível sim, venho
refletindo, estou advogando aqui e uma mudança de cidade assim não se faz de
forma precipitada.

GUSTAVO PRANDINI - O PV
genuíno, “raiz”, que nasceu na Austrália, é forte na Alemanha e teve seu
momento aqui no Brasil, já nasceu com a visão para além da dicotomia esquerda e
direita. Mas o conjunto de políticas públicas voltadas para uma melhor
distribuição de renda no Brasil, para uma luta afirmativa por mais igualdade,
cidadania e vida digna para todos realmente aglutinou o PV e outros partidos no
chamado campo progressista ou de esquerda. Pessoalmente, por minha formação
familiar, universitária e militância em
Monlevade, continuo acreditando em um conjunto de valores que devem nortear a
ação política na busca de um patamar civilizatório que garanta direitos
elementares para todos, e no Brasil estamos longe disso ainda. Basta comparar
as estatísticas brasileiras com a de países desenvolvidos. Mas o que me parece
essencial é ouvir quem pensa diferente, trabalhar com quem pensa diferente, conviver
com quem pensa diferente, aprender todo dia com quem pensa diferente, isso eu
vejo como essencial para não cairmos no extremismo daqueles que acreditam só
haver uma verdade. Afinal, o que é a verdade?
CENÁRIOS - Vc tem se
informado sobre a situação de Monlevade? Como avalia a cidade hoje?
GUSTAVO PRANDINI - Eu me
informo por aquilo que é publicado. E quando estou aí, é natural que uma ou
outra pessoa me fale sobre a cidade. Mas se pautar somente por aquilo que é
publicado é muito pouco. Para avaliar eu precisaria estar morando aí,
convivendo o dia a dia das pessoas. Mas com esta crise econômica que o país está
vivendo, Monlevade certamente está sofrendo os reflexos como a grande maioria
das cidades. Agora, o povo fez sua legítima escolha em 2016, então como cidadão
eu torço para que as coisas dêem certo.
CENÁRIOS - Sua gestão teve fases distintas.
Teve um início muito bom, depois teve a ameaça de cassação e dificuldades
sucessivas, que pelo menos na percepção da mídia, acarretaram em uma baixíssima
popularidade. Vc conseguiria sintetizar as causas dessa percepção negativa?
Acha que são infundadas?
GUSTAVO PRANDINI - Veja bem,
a resposta tem algumas vertentes. Tentarei ser sintético. Mesmo tentando
acertar, fizemos escolhas políticas equivocadas e com isso nosso governo perdeu
boa parte da capilaridade junto às forcas políticas da cidade. Muito disso se
deu por inexperiência mesmo. E aí, mesmo que administrativamente estivéssemos
trabalhando e fazendo muita coisa importante para a cidade, o discurso, a
narrativa que se impunha nas ruas era contra o governo. Outra coisa foi que em
2008, ano da eleição, toda a cidade estava eufórica com a duplicação da ArcelorMittal.
A expectativa, dada como certa, era de que a Prefeitura cresceria sua arrecadação
em mais 50 milhões de 2009 até 2012. O investimento previsto pela Arcelor na
cidade era de 1 bilhão e 200 milhões. Foi a partir destas projeções que fizemos
o plano de governo. Aí venci as
eleições, a crise mundial estourou, a Arcelor paralisou seus investimentos, um
clima de frustração tomou conta da cidade e a ousadia do meu plano de governo
foi para o ralo. As cobranças vieram, era natural, o plano de governo estava
nas mãos das pessoas. O aprendizado disso é não planejar com variáveis
econômicas que não estou sob seu controle. Mas veja, mesmo assim fizemos
muitas, muitas coisas boas em 4 anos e ainda transmiti o governo ao meu
sucessor deixando cerca de 30 milhões em convênios com o Governo Federal e
Estadual, para investimentos em obras: a verba para a pista de caminhada da
Gentil Bicalho, a ETE de Carneirinhos, 5 milhões para asfaltamento, 3 novas
escolas de educação infantil, a UPA do Novo Cruzeiro e muito mais. Tem coisas
que até hoje estão fazendo com recursos que eu deixei garantidos. E tem coisa
que ouvi dizer que devolveram o dinheiro ao governo federal, mas não sei o
motivo.
CENÁRIOS - Alguma coisa de
que vc se arrependa, que faria diferente se tivesse a oportunidade?
GUSTAVO PRANDINI - Olha, não
acho o conceito de mero arrependimento saudável para ninguém, individualmente
ou coletivamente. Acho que ainda precisamos aprender muito com Freud, Lacan e
tantos outros nessa área. Julgar o passado com os conceitos e o olhar de hoje é
um tanto simplista. Agora, reconhecer equívocos e evoluir, aprimorar, superar é
essencial. Neste sentido, faria muita coisa diferente, porque sou diferente
hoje como serei diferente daqui 10 anos, ao mesmo tempo que sou o mesmo,
percebe? Acho que quem lê entende do que estou falando olhando para sua própria
vida, é assim com cada um não é? E as demandas da sociedade também mudam, então
cada governo tem em seu tempo, um perfil próprio. Outra coisa, voltando para
2009 a 2012, quem refletir com isenção, talvez reconheça que eu e aqueles que
estiveram comigo de 2009 a 2012 tivemos muita resiliência para suportar
injustiças e perseguições, por exemplo.
CENÁRIOS - Mesmo
estando distante da cidade esse tempo todo, vc
ainda tem um grupo importante de apoiadores, de pessoas que tem
lembranças positivas de seu governo e que toparia trabalhar com vc. Pra
vereador seria enorme a possibilidade de ser eleito. Estuda essa possibilidade
também?
GUSTAVO PRANDINI - Por que
não? A Câmara Municipal é o Poder Legislativo, essencial para a cidade. Seria
uma honra, mas eu ainda preciso ouvir muito, refletir, ouvir mais.
CENÁRIOS - Como enxerga a
política estadual e nacional? Tempos de resistência ou de resiliência?
GUSTAVO PRANDINI - Resiliência
e resistência caminham juntas e realmente o desafio está colocado para todos
nós. Mas como diz a música, “amanhã há de ser outro dia”.
CENÁRIOS - Você também é
adepto da literatura, gosta e escreve muito bem. Alguma coisa no radar?
Rabiscos que podem virar livros?
GUSTAVO PRANDINI - Estou
terminando de ler Os irmãos Karamázov, de Dostoiévski, e a dimensão de um
clássico desse me dá medo de escrever ao mesmo tempo que me inspira. Andei
escrevendo alguns novos poemas e o desejo de um livro permanece.
CENÁRIOS - O Cruzeiro vai
ser campeão esse ano? Rs...
GUSTAVO PRANDINI - Claro, já
virou hábito todo ano o cruzeiro ser campeão, bom demais, não é? Este é o ano
de nossa Libertadores e nosso Mundial. Vamos à luta!
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