domingo, 12 de maio de 2019

GUSTAVO PRANDINI ABRE O VERBO....


O Blog Cenários foi ouvir o advogado e ex-prefeito de João Monlevade, Gustavo Prandini. Gustavo hoje reside e trabalha em Juiz de Fora,  mas teve a generosidade de participar desse bate-papo comigo, onde fala sobre diversos assuntos, inclusive clareia sobre boatos recorrentes que tem saído na mídia. Mas vamos à entrevista.

CENÁRIOS - Existem vários boatos sobre candidatura sua a prefeito em 2020. Já falaram que vc iriam para o PC do B, também chegaram a citar o PSB.  Agora falam do PT. Enfim... tem alguma conversa mesmo ou são especulações?

GUSTAVO PRANDINI - Primeiro quero te agradecer a oportunidade de falarmos. Curiosamente, a gente se conheceu pela internet e trabalhamos juntos por um tempo. Então, pra mim é simbólico que mais de 6 anos depois de minha última entrevista como prefeito, eu venha a ser entrevistado à distância, pela internet e exatamente por você. E já te respondendo, eu estou há 6 anos sem partido político. Neste período, tive a oportunidade de manter contato com pessoas de vários partidos. Surgiram convites para filiação, mas eu estava em outro momento. Sobre a política em Monlevade,  este ano  alguns amigos começam a propor uma reflexão sobre voltar e pensar em uma candidatura. Estive com algumas pessoas, eu procurei mais ouvir, entender, refletir. Tenho amigos em Monlevade em vários partidos, não somente nestes 3 que você citou. Mas não tive reunião formal com nenhum ainda, até porque minha prioridade hoje é minha atividade profissional.

CENÁRIOS - Logo que acabou o seu mandato, vc mudou-se para Juiz de Fora, onde foi trabalhar na Prefeitura. Como é a vida na Manchester Mineira? Você se adaptou bem? Aprendeu muito com os conterrâneos do Itamar? Avalia ficar por aí mesmo...ou o retorno à Monlevade realmente está nos planos?

GUSTAVO PRANDINI - Vir para Juiz de Fora a trabalho foi uma oportunidade muito interessante e muito natural. Monlevade sempre acolheu muita gente de fora que aí chegou para trabalhar e ficou. O inverso também acontece, tenho amigos de escola daí que hoje moram em todo canto do país e até mesmo em outros países. E gosto muito de Juiz de Fora, estou adaptado, aprendi e continuo buscando aprender a cada dia. A vida é isso né, aprender, sempre. Os 6 anos em que trabalhei na Prefeitura daqui foram muito importantes para mim. Mas voltar é possível sim, venho refletindo, estou advogando aqui e uma mudança de cidade assim não se faz de forma precipitada.

CENÁRIOS - Vc foi do PV, na fase,digamos assim, romântica do Partido. O PV tinha um viés de esquerda. E Gustavo Prandini? Ainda se mantém fiel às ideias de esquerda, aproximou-se um pouco mais do centro ou nenhuma das respostas anteriores?

GUSTAVO PRANDINI - O PV genuíno, “raiz”, que nasceu na Austrália, é forte na Alemanha e teve seu momento aqui no Brasil, já nasceu com a visão para além da dicotomia esquerda e direita. Mas o conjunto de políticas públicas voltadas para uma melhor distribuição de renda no Brasil, para uma luta afirmativa por mais igualdade, cidadania e vida digna para todos realmente aglutinou o PV e outros partidos no chamado campo progressista ou de esquerda. Pessoalmente, por minha formação familiar,  universitária e militância em Monlevade, continuo acreditando em um conjunto de valores que devem nortear a ação política na busca de um patamar civilizatório que garanta direitos elementares para todos, e no Brasil estamos longe disso ainda. Basta comparar as estatísticas brasileiras com a de países desenvolvidos. Mas o que me parece essencial é ouvir quem pensa diferente, trabalhar com quem pensa diferente, conviver com quem pensa diferente, aprender todo dia com quem pensa diferente, isso eu vejo como essencial para não cairmos no extremismo daqueles que acreditam só haver uma verdade. Afinal, o que é a verdade?

CENÁRIOS - Vc tem se informado sobre a situação de Monlevade? Como avalia a cidade hoje?

GUSTAVO PRANDINI - Eu me informo por aquilo que é publicado. E quando estou aí, é natural que uma ou outra pessoa me fale sobre a cidade. Mas se pautar somente por aquilo que é publicado é muito pouco. Para avaliar eu precisaria estar morando aí, convivendo o dia a dia das pessoas. Mas com esta crise econômica que o país está vivendo, Monlevade certamente está sofrendo os reflexos como a grande maioria das cidades. Agora, o povo fez sua legítima escolha em 2016, então como cidadão eu torço para que as coisas dêem certo.

CENÁRIOS - Sua gestão teve fases distintas. Teve um início muito bom, depois teve a ameaça de cassação e dificuldades sucessivas, que pelo menos na percepção da mídia, acarretaram em uma baixíssima popularidade. Vc conseguiria sintetizar as causas dessa percepção negativa? Acha que são infundadas?

GUSTAVO PRANDINI - Veja bem, a resposta tem algumas vertentes. Tentarei ser sintético. Mesmo tentando acertar, fizemos escolhas políticas equivocadas e com isso nosso governo perdeu boa parte da capilaridade junto às forcas políticas da cidade. Muito disso se deu por inexperiência mesmo. E aí, mesmo que administrativamente estivéssemos trabalhando e fazendo muita coisa importante para a cidade, o discurso, a narrativa que se impunha nas ruas era contra o governo. Outra coisa foi que em 2008, ano da eleição, toda a cidade estava eufórica com a duplicação da ArcelorMittal. A expectativa, dada como certa, era de que a Prefeitura cresceria sua arrecadação em mais 50 milhões de 2009 até 2012. O investimento previsto pela Arcelor na cidade era de 1 bilhão e 200 milhões. Foi a partir destas projeções que fizemos o plano de governo.  Aí venci as eleições, a crise mundial estourou, a Arcelor paralisou seus investimentos, um clima de frustração tomou conta da cidade e a ousadia do meu plano de governo foi para o ralo. As cobranças vieram, era natural, o plano de governo estava nas mãos das pessoas. O aprendizado disso é não planejar com variáveis econômicas que não estou sob seu controle. Mas veja, mesmo assim fizemos muitas, muitas coisas boas em 4 anos e ainda transmiti o governo ao meu sucessor deixando cerca de 30 milhões em convênios com o Governo Federal e Estadual, para investimentos em obras: a verba para a pista de caminhada da Gentil Bicalho, a ETE de Carneirinhos, 5 milhões para asfaltamento, 3 novas escolas de educação infantil, a UPA do Novo Cruzeiro e muito mais. Tem coisas que até hoje estão fazendo com recursos que eu deixei garantidos. E tem coisa que ouvi dizer que devolveram o dinheiro ao governo federal, mas não sei o motivo.

CENÁRIOS - Alguma coisa de que vc se arrependa, que faria diferente se tivesse a oportunidade? 

GUSTAVO PRANDINI - Olha, não acho o conceito de mero arrependimento saudável para ninguém, individualmente ou coletivamente. Acho que ainda precisamos aprender muito com Freud, Lacan e tantos outros nessa área. Julgar o passado com os conceitos e o olhar de hoje é um tanto simplista. Agora, reconhecer equívocos e evoluir, aprimorar, superar é essencial. Neste sentido, faria muita coisa diferente, porque sou diferente hoje como serei diferente daqui 10 anos, ao mesmo tempo que sou o mesmo, percebe? Acho que quem lê entende do que estou falando olhando para sua própria vida, é assim com cada um não é? E as demandas da sociedade também mudam, então cada governo tem em seu tempo, um perfil próprio. Outra coisa, voltando para 2009 a 2012, quem refletir com isenção, talvez reconheça que eu e aqueles que estiveram comigo de 2009 a 2012 tivemos muita resiliência para suportar injustiças e perseguições, por exemplo.

CENÁRIOS - Mesmo estando distante da cidade esse tempo todo, vc  ainda tem um grupo importante de apoiadores, de pessoas que tem lembranças positivas de seu governo e que toparia trabalhar com vc. Pra vereador seria enorme a possibilidade de ser eleito. Estuda essa possibilidade também?

GUSTAVO PRANDINI - Por que não? A Câmara Municipal é o Poder Legislativo, essencial para a cidade. Seria uma honra, mas eu ainda preciso ouvir muito, refletir, ouvir mais.

CENÁRIOS - Como enxerga a política estadual e nacional? Tempos de resistência ou de resiliência?

GUSTAVO PRANDINI - Resiliência e resistência caminham juntas e realmente o desafio está colocado para todos nós. Mas como diz a música, “amanhã há de ser outro dia”.

CENÁRIOS - Você também é adepto da literatura, gosta e escreve muito bem. Alguma coisa no radar? Rabiscos que podem virar livros?

GUSTAVO PRANDINI - Estou terminando de ler Os irmãos Karamázov, de Dostoiévski, e a dimensão de um clássico desse me dá medo de escrever ao mesmo tempo que me inspira. Andei escrevendo alguns novos poemas e o desejo de um livro permanece.

CENÁRIOS - O Cruzeiro vai ser campeão esse ano? Rs...

GUSTAVO PRANDINI - Claro, já virou hábito todo ano o cruzeiro ser campeão, bom demais, não é? Este é o ano de nossa Libertadores e nosso Mundial.  Vamos à luta!

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