sábado, 19 de setembro de 2009

COM TURMA FICA MAIS FÁCIL

Quando eu era menino pequeno em Alvinópolis, aconteceu um fato que nunca saiu da minha cabeça. Havia um menino grandão e forte que batia em todos os outros meninos e era muito temido. Até que certo dia foi se meter com outro garoto, que era baixinho e franzino. Por causa de um chapeuzinho que levou no futebol, o grandão falou que ia quebrar o outro na porrada depois da pelada. Só que o grandão não contava com uma coisa. O baixinho tinha turma. Quando terminou a pelada e o valentão partiu pra cima do baixinho, juntaram uns 20 meninos em cima do gigantão e o deixaram todo cheio de arranhões, mordidas e escoriações pelo corpo.

Eu conto esse caso pra falar do poder que as pessoas tem quando atuam de forma conjunta, quando se agrupam para buscar interesses comuns. Trazendo para o campo da música, a maioria dos grandes movimentos musicais explodiu por ter um sentido de agrupamento, um conceito de vender um movimento. Aconteceu isso, por exemplo, com a turma do Rock Brasil dos anos 80, quando apareceram vários artistas ao mesmo tempo em que sempre se apresentavam juntas, com a turma do Rock de Brasília, representada pelo Legião Urbana, Paralamas do Sucesso e Capital Inicial, a turma de SP com o IRA, Titãs, Os Inocentes e Ultraje e Rigor, a turma do Rio com Blitz, Barão Vermelho e Kid Abelha e a turma do Rio Grande do sul, com Engenheiros do Haway e Nenhum de Nós. Eles tinham um forte sentimento identidade regional e conseguiam fazer um belo giro de shows e venda de CDS. Depois pintou um movimento ainda maior, que foi o movimento do AXÉ BAIANO. Com forte apoio governamental, foi criada uma fantástica indústria cultural, responsável pelo lançamento de inúmeros artistas, como a Cia do Pagode, Chicletes com Banana, Banda Beijo, Banda Eva, É o tchan, Grupo Harmonia, Timbalada, Carlinhos Brown, Asa de Águia, Babado Novo, Ivete Sangalo, Claudia Leite, quer dizer... a lista é interminável. Pra completar, a música AXÉ se vende com o conceito de grande festival, exportando micaretas para o Brasil afora... tudo isso com um forte conceito de indústria itinerante, vendendo toda a estrutura de trios elétricos, camisetas, abadas e uma infinidade de produtos, enfim, demonstrando que cultura vende e vende muito bem. Depois, ainda tivemos o movimento funk, que teve no programa Furacão 2000 o seu grande catalisador, mas que também consegue vender MCs qualquer coisa pra qualquer lugar, bastando que o famoso tamborzão bata, que as menininhas dancem com os dedinhos na boca e subam e desçam até o chão. Sem juízo de valor ou qualidade, não há como negar que o movimento foi muito bem trabalhado em termos de marketing e também vende e sustenta uma cena bastante fértil. Eu digo isso para chegar ao ponto que pretendo:

Nós da região do Vale do Rio Piracicaba precisamos nos enturmar mais, criar perspectivas para vender nossa arte e nossa cultura com embalagens especiais. Infelizmente, os artistas são por demais ególatras para se enturmar por conta própria. Quase sempre criam rivalidades artificiais, sem perceber que a classe tem muito mais afinidades que motivos para se odiar. Outro detalhe é que o artista quer é criar, praticar a sua arte e tem muita preguiça com burocracia, com venda de seu trabalho, com divulgação e outros detalhes que não seja aquele que lhe dá prazer e que sabe fazer melhor. Sendo assim, essa tarefa pode e deve partir das instancias públicas: criar eventos e até divisões dentro dos departamentos de cultura, que possam criar eventos que possibilitem aos artistas mostrar e aperfeiçoar seus trabalhos, vender esses trabalhos para outras cidades, criar ferramentas de venda como cartazes, CDs coletânea, divulgar a arte produzida na cidade até como forma de divulgar-la através dos seus talentos, que em contrapartida, terão orgulho em dizer que são filhos da cidade que lhes deu toda a condição para que chegassem até onde se encontram.

Digo tudo isso, mas me confesso otimista. Temos na região alguns prefeitos novos com cabeças novas, que reconhecem o valor da cultura e se mostram muito abertos para conversar a respeito desse assunto. Mas terá de haver também boa vontade por parte dos talentos em despir os egos e ter sentido de equipe. Que haja disposição para que cada um analteça as qualidades do outro, ao invés dos defeitos, que todos ajudem a hastear a bandeira comum de sua tribo, da arte da sua cidade, assim será possível criar um ambiente propício para que nossos talentos possam brilhar intensamente.

No próximo artigo, voltarei com novidades sobre o ROCK PIRA IV, que terá na próxima semana alguns capítulos decisivos. Mas podem ficar tranqüilos que não será uma novela. No máximo, uma mini-série (rs).


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