O Cenários dessa semana traz como entrevistado o ex-prefeito
Gustavo Prandini. Embora ele não se declare candidato, seu nome é sempre citado em pesquisas. Gustavo está retornando a Monlevade pela advocacia, onde está remotando
seu escritório. Mas é claro que a política acaba aparecendo no radar.
Vamos à entrevista.
CENÁRIOS - Vc acaba de anunciar seu novo escritório de
advogacia em João Monlevade. Isso significa um retorno definitivo?
GUSTAVO PRANDINI - Definitivo na
vida somente a morte, não é? É bom estar de volta à cidade, estar mais próximo
da família. E já estou com meu escritório de advocacia na cidade funcionando.
Estas escolhas do presente sim, são definitivas.
CENÁRIOS - Vc gosta d e acredita na política como
instrumento de transformação. Cogita a possibilidade de um retorno à prefeitura
ou a tendência é a câmara?
GUSTAVO PRANDINI - Nenhum dos
dois. Meu objetivo atual é atender bem aqueles que me procuram no escritório de
advocacia. Há várias formas de contribuir com a comunidade local.
CENÁRIOS - Vc está em qual partido hoje mesmo? Pretende
continuar ou cogita mudar de legenda?
GUSTAVO PRANDINI - Hoje não estou
em partido nenhum. Aliás, estou há 7 anos sem estar filiado a partido político.
CENÁRIOS - Houve muito tititi em cima de um encontro seu com
Carlos Moreira, afinal, vcs eram adversários ferrenhos. Houve boatos até de que
vc poderia sair como vice numa chapa com ele ou Simone. Depois veio outro
tititi de que vc estaria pleiteando a procuradoria, com apoio do Moreira. O que existe de real e de boato?
GUSTAVO PRANDINI - Recentemente
conversei com Carlos e com a Prefeita. Vejo isso de forma natural, trocar
ideias, experiências, superar diferenças. Infelizmente, o país vive um momento
em que parcela das pessoas parece optar pelo ódio, ataques pessoais e isso
acaba acontecendo em Monlevade também. Sempre teve gente assim, mas agora
parece que há uma parcela maior sendo influenciada por este discurso de ódio.
Nunca acreditei que este seja o caminho para algo bom. Mas quanto ao que
importa, não discutimos candidaturas para o ano que vem, muito menos este cargo
da Câmara que vagou recentemente. Se meu nome foi cogitado fico muito grato,
não cheguei a ser ouvido sobre o assunto, mas estou certo de que o Pastorini e
a Grazieli farão um ótimo trabalho. Como eu já disse antes, acho que todos ex
prefeitos e vice prefeitos deviam conversar mais, pelo bem da cidade. Nestas
nossas recentes conversas dei até uma sugestão técnica e tive notícia que já há
resultado muito positivo para a cidade. Então, fico feliz. Por que eu deveria
torcer para dar errado?
CENÁRIOS - O que vc pensa quando vê que projetos como a Linha
Azul, Parque do Areão, Memorial do Aço, as ETEs, entre outros ficaram parados,
e outros espaços ficaram praticamente abandonados, virando ruína como foi
constatado no Estádio Louis Ensch recentemente.
GUSTAVO PRANDINI - Não visitei o
estádio recentemente, não posso falar que esteja “em ruína”. Mas li alguns
falando do passado. Os eventos que fizemos lá no meu Governo foram sucesso de
público, de logística no trânsito e estacionamento, e o gramado foi preservado.
Uma comissão que tinha vereador da oposição acompanhou tudo. Mas sempre tem
gente pra só torcer contra. No mais, quanto aos projetos que você citou, que
deixei prontos ou bem encaminhados, realmente acredito que o melhor caminho
seria que tivessem dado andamento.
CENÁRIOS - Vc já foi prefeito e sabe que muitas vezes alguns
empréstimos chegam pra salvar a lavoura.. O que acha sobre esses empréstimos
que a prefeitura tá pegando agora?
GUSTAVO PRANDINI - Financiamento
de obras são coisas normais em qualquer governo, no mundo todo. Aliás, grandes
empresas também pegam financiamento para expansões e novos investimentos. O que
importa é a questão técnica. As obras propostas são importantes? O Município
está dentro do limite de capacidade de endividamento? Os juros são baixos? Os
ótimos servidores da prefeitura, a Érica, a Silvana, a Angélica, o Adílson, o
Eduardo e tantos outros podem responder isso. Se a resposta for sim, as
críticas externas talvez sejam daqueles que torcem contra.
CENÁRIOS - Sobre o trânsito no centro, problema que vem se
agravando com os anos. A prefeitura tentou intervenções recentemente que não
deram certo. A partir da sua experiência até em um centro maior, como vc
lidaria com a situação hoje?
GUSTAVO PRANDINI - Primeiro, não
estou certo de sua afirmação de que as intervenções simplesmente não deram
certo. Parte delas pode ter dado certo e parte não. Mas eu teria sim, contratado
previamente um projeto técnico conceitual, que depois se transformaria num
projeto executivo, e por fim viria a execução.
CENÁRIOS - Daqui a pouco entra a temporada das enchentes.
Lembro-me que no seu governo fizeram até memes de vc num jetski na enxurrada. O
Djalma em sua entrevista abordou o assunto e deu opiniões relevantes. Hoje,
como vc trataria do problema?
GUSTAVO PRANDINI - Nos 4 anos do
meu governo tivemos o problema extra de mais chuvas do que nestes últimos anos.
Fizemos várias obras que resolveram parcialmente o problema. Não há almoço
grátis e a solução definitiva para uma cidade encravada entre montanhas como a
nossa exige investimentos e concordo com as ações que o Djalma apontou como
necessárias.
CENÁRIOS - Esses dias, por causa da reabertura do seu
escritório de advocacia, vc está mais em João Monlevade, conversando, se
re-conectando com as pessoas. Quais as principais demandas do povo no seu ver.
O que o povo reclama e pede?
GUSTAVO PRANDINI - Difícil
dizer. São praticamente 80 mil pessoas.
Regiões e bairros diferentes. Sobretudo, situação de vida diferente. Quem está
bem empregado, tem sua casa e seu carro, tem uma demanda X perante o Poder
Público. Quem está desempregado, paga aluguel, precisa do transporte coletivo
tem uma demanda Y. Mas posso dizer que algumas demandas me parecem comuns:
cidade limpa e vias públicas bem cuidadas, educação pública de qualidade e
funcionamento adequado do Sistema de Saúde, mais lazer e cultura. Por outro
lado, penso que precisamos valorizar mais aspectos positivos da cidade. Temos
índices de qualidade superior a grande parte das cidades mineiras. Uma família
não tem harmonia se ficar somente um irmão criticando o outro. É preciso
encarar e tratar os problemas mas valorizando e preservando o que tem de
bom.
CENÁRIOS - Na área da saúde, levando em consideração o que
observou em sua gestão e que perduram hoje em dia. Vc tentaria outras soluções
para o complexo sistema de saúde pública de Monlevade?
GUSTAVO PRANDINI - Muitas vezes
quem mora aqui só percebe o quanto a cidade é boa quando viaja a trabalho ou
férias e precisa do serviço público em outra cidade. Já ouvi muita gente
falando que viajou no carnaval, teve um problema de saúde e foi pessimamente
atendido na cidade onde estava. E aí reconhece que temos problemas, mas que
temos muita coisa funcionando bem também. Precisamos sempre melhorar, temos
deficiências, mas há alguns serviços funcionando melhor que em cidades muito
maiores. E para algumas ideias concretas e viáveis para melhorar o sistema de
saúde local eu precisaria de um diagnóstico atualizado.
CENÁRIOS - Há pouco tempo um político da região me falou que
Cultura não dá voto e não enche a barriga de ninguém, que não dá voto e portanto
não deve ser priorizada. Será que o voto é a única moeda vigente? Não acha que
falta mais espaço para a fruição da arte e da cultura?
GUSTAVO PRANDINI - Minhas ações
quando Prefeito falam por mim sobre o que penso da Cultura e Lazer. Mais que
duplicamos nossa pontuação no ICMS cultural. Promovemos concursos literários e
fotográficos e produzimos publicações com as obras. Realizamos o FESTIAÇO
(festival da canção), com artistas de vários cantos do país. Tivemos o FESTIVAL
DE ARTES CÊNICAS, que movimentou a cidade e promoveu oficinas para os artistas
locais, semente para alguns grupos de teatro que existem hoje na cidade. Em
todas as festas da cidade promovidas pela Prefeitura, absolutamente todas,
garantimos participação dos artistas locais na programação , além de termos
lançado o projeto Mais que Rock para bandas e artistas da cidade, valorizando
todos os segmentos. Semana passada mesmo o Adriano da banda Concreto me falou
como foi bacana a oportunidade de terem feito um show na Praça do Povo durante
meu governo. Resgatamos o carnaval de rua com PRÉ-FOLIA e seus blocos, a cada
ano maior, compostos pelos grupos de terceira idade , pelos universitários e
tantos outros. Encantamos a cidade, resgatando o espírito natalino com os
enfeites da Natal nas praças públicas. Estimulamos e apoiamos lançamento de
livros de autores monlevadenses, como o Jairo, o Ventania e outros. Realizamos
projetos ousados e pioneiros como a gravação do CD “Cenas da Periferia”, com de
músicas de funk, rap e hip hop de artistas da cidade. A Fundação Casa de Cultura recebeu sede
própria, deixando e pagar aluguel e de trocar de lugar. Investimos nas Guardas
de Marujo e Congado. Promovemos a Primeira Conferência Municipal de Cultura.
Paro aqui, mas teve mais.
CENÁRIOS - Pra você, quais são as palavras do futuro:
esperança, austeridade ou as duas?
GUSTAVO PRANDINI - Quem sou eu para saber as
palavras do futuro. Você falou esperança e austeridade. Não vejo nenhum
conflito entre as duas. Mas veja, esperança vem de “esperar”. Ao invés de
esperar, acho é que temos que fazer
nossas escolhas e agir no presente. O Brasil vive um período de retrocessos,
Monlevade pode ser um espaço de resistência, de liberdade, de luta, mas com
diálogo e união, com valores que agregam ao invés de dividir as pessoas. A
união em torno de coisas simples pode trazer evoluções e melhorias
surpreendentes