
Por causa das oportunidades de trabalho, principalmente por causa da gigante Belgo Mineira, pessoas das cidades próximas acabaram se mudando pra Monlevade, buscando empregos e melhores condições de vida.
Por um lado, esse êxodo resultou na formação de um considerável público consumidor e no desenvolvimento do comércio e do setor de serviços. Por outro lado, os efeitos colaterais desse êxodo, foram a identificação desses públicos com suas cidades de origem e pequeno sentimento de pertencimento, de amor à cidade.
Aí o pessoal pode perguntar: Peraí, mas o que isso tem a ver com a temática da coluna ? Ora, tem tudo a ver! A arte produzida por um povo representa as abstrações, criações provenientes do inconsciente coletivo, de sua história para se adaptar aos contextos econômico, social, religioso,etc É dessa massaroca que se configura o mosaico que denominamos cultura.
Pois bem! Se formos imaginar que a cidade praticamente cresceu a partir de uma pequena "revolução industrial", da produção do aço, como pensar que grupos sertanejos tenham tão boa acolhida, senão por causa da ligação que a gente daqui ainda tem com suas origens rurais? Monlevade não deveria ter uma cultura industrial, como acontece em Manchester ou Cubatão?
Hipoteticamente sim, mas como comentei antes, a cidade foi povoada por pessoas das cidades vizinhas, quase todas de perfil agropecuário. Mais que um estado minerador, somos eminentemente agrários e o campo fala muito forte dentro de nós. Prova disso é que a Rádio Liberdade de Betim, que só toca sertanejo está em primeiríssimo lugar há 10 anos.
Faço essa introdução para falar de duas belas duplas da cidade: Maycon e Douglas e Fabrício e Elcimar.
Maycon e Douglas, conheci há algum tempo. Estiveram em contato comigo, pois desejavam gravar a música "Do outro lado do Espelho". Curioso que sou, pedi que me enviassem uma gravação. Fiquei muito bem impressionado por um detalhe. Eles não procuram imitar o jeito tradicional de cantar sertanejo. Cantavam do jeito deles, sem empostação exagerada, sem os vícios do gênero. No entanto, penso que devem ter tido alguma dificuldade, pois não é fácil remar contra a maré. Quando você faz algo diferente, ao invés de se louvar essa busca pela originalidade, muitas vezes acontece do mercado fechar as portas, esperando que você imite a fórmula padrão. Maycon e Douglas buscam um caminho próprio e penso que devem mesmo insistir na formula e lapidar melhor o trabalho. Vitor e Leo, por exemplo, conseguiram fazer sucesso no ambiente sertanejo, sem cantar da maneira padrão.
Já Fabrício e Elcimar, ouvi falar da primeira vez quando estava trabalhando com o João Carlos da Rádio Alternativa no primeiro Festival do Aço. Um barraqueiro que trabalhava no evento nos falou: - Vocês estão fazendo esse festival aí, mas deviam ter um show de Fabrício e Elcimar também. Garanto que iriam atrair pelo menos umas 3.000 pessoas.
Perguntei ao João: - Quem são Fabrício e Elcimar? João me falou que era uma dupla nova que estava arrebentando, levando muita gente aos shows. Depois, fui acompanhando de longe e só notícias boas chegando, de que haviam fechado um contrato com a Farmácia Barros que os estava patrocinando, que estavam produzindo com o Midas da música sertaneja conhecido como Pinóquio, enfim, eles tem tinham tudo pra estourar em nível nacional. Só que o mercado anda saturado de duplas e não é fácil conseguir visibilidade. No entanto, isso não abala a credibilidade conquistada nem põe em dúvida a qualidade da dupla. Eles têm apenas de ter paciência e perseverança pra encontrar as brechas certas. E que a cidade industrial, que também é rural continue apoiando seus cantantes. No próximo artigo, vou falar sobre o cenário POP ROCK da cidade.
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