quinta-feira, 20 de maio de 2010

MONALISA

Ela era uma rainha. Era tratada com as melhores pastagens e veterinários, com carinho e cuidados especiais por parte do seu dono e requisitada por todos os sitiantes do lugar, pois deixava os gramados aparadinhos com todo esmero. Além do mais era ensinada. Seu dono abria o portão do sítio e a deixava cavalgar pelas cercanias e namorar os mais belos corcéis dos haras vizinhos, mas quando chegava de tardezinha ele simplesmente gritava seu nome: - MONALIIIIIIIIISA. E lá vinha ela a todo vapor para receber mais um tapinha carinhoso e recolher-se á seu estábulo particular. Assim seguia a vida daqueles dois amigos. Seu dono de nome Roberto gostava de tomar suas cervejas, de olhar para a paisagem verdejante e de observar Monalisa pastando solene. Só que um dia o bicho pegou. Veio uma crise financeira daquelas e o Roberto teve de desfazer-se de alguns bens. Naquele momento crítico apareceu um sitiante e ofereceu um bom dinheiro pela Monalisa. Roberto acabou topando e lá se foi a rainha viver em outro sitio.

Roberto ficou triste, mas fazer o quê? Era o capitalismo fazendo mais uma vítima.

Em princípio Roberto ficou triste. Parecia que havia perdido um ente querido, mas com o tempo se acostumou e continuou levando a vida. Mas eis que numa tarde, por volta das 17 horas, Roberto estava indo embora para Belo Horizonte após mais um relaxante final de semana em seu sitio quando sua sobrinha que estava no carro falou:

- Gente...olha lá que covardia que estão fazendo com aquele cavalo.

- O quê ? – perguntei...

- Uai...ele ta carregando um peso enorme nas costas e ainda puxando uma charrete.

- Nossa...é mesmo...e estão descendo o chicote nele – retruquei.

Quando nos aproximamos, Roberto falou com a voz trêmula.

- Gente...não é um cavalho...é uma égua...é...a Monalisa.

Nisso, notei que os olhos dele viraram um rio de tanta lágrima que descia. Ele teve de parar pra secar o pranto. Ninguém ousou falar nada dentro do carro. A sobrinha também começou a chorar. Roberto refez-se, ligou o carro e acelerou. Pensei comigo: Meu Deus do céu! Como podem tratar uma rainha daquele jeito? Não sabem do valor daquela belezura. Roberto rumou para Belo Horizonte e uma canção tocou no rádio: “Eu vou tirar você desse lugar...” Ê vida !!!


Nenhum comentário:

Postar um comentário