quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

CONVENIÊNCIAS


Enquanto isso, o pai ajudava a filha num trabalho escolar.


- Pai...me explique a frase: política é igual nuvem.
- Bom...já reparou como as nuvens mudam de forma no céu?
- Não sou muito de olhar pro céu.
- Mas então...veja como aquela ali se parece com um elefante.
- É mesmo...mas peraí...tá mudando de forma... tá virando um bule...não...um jarro.
- Pois é. Dizem que a política é que nem nuvem...a cada hora que você olha tá de um jeito.
- Mas como assim pai..
- Olha filha... assim como as nuvens,  tem pessoas que mudam num curto espaço de tempo
- Mudam? Como assim?
- Uai...muitas vezes elas tem uma posição, uma opinião à respeito de determinados assuntos e mudam por causa de conveniências.
- Tá bom então. Mas o que são conveniências?
- Uai...conveniência significa levar alguma vantagem numa questão, ganhar algo.
- Sinistro, hein papai.
- Num primeiro momento é isso que a gente pensa, mas é a lei da sobrevivência.  Quem se sente rejeitado procura outros companheros e já começa automaticamente a guerrear pelas conveniências.
- Mas então a pessoa vira inimiga de quem era amigo?
- Realmente é muito ruim quando as conveniências começam a atropelar as amizades e isso costuma acontecer mesmo. Mas existem algumas amizades, que de tão sólidas sobrevivem.
- Mas não é possível, pai. Deve ter pessoas que não se vendem pelas conveniências
- Tá certo! Existem também pessoas fieis, de alma nobre, que não se deixam levar pelas conveniências.  Mas são aves raras.
- Mas e nas eleições? O povo também vota por conveniência?
- O povo é extremamente conveniente e imediatista.  No fundo, o eleitor vota em si. Não só vota como trabalha para si mesmo até quando apóia este ou aquele candidato. Não existe racionalidade no processo. Só conveniências. O eleitor vota naquele que acha que vai melhorar a sua vida ou garantir alguma vantagem para ele e seus familiares. Já quando a tentativa é de reeleição, o raciocínio é o mesmo. Se o eleitor enxergar que sua vida melhorou, que o candidato merece um tempo extra, concede esse tempo. Se for convencido pela oposição de que o governo foi um descalabro, vai votar pela troca de comando.
- Puxa. Mas essa oposição é sacana, hein?
- A oposição faz o que faz pelas suas conveniências. O problema é que os métodos utilizados não são honestos. Neste processo existem distorções e perseguições de toda monta.
- Mas e a ética que ensinam nas escolas?
- Minha filha, estamos falando de poder. Neste terreno a ética só funciona como verniz dos discursos.  
- Olha lá, pai...a nuvem ficou escura. Parece que vem chuva. Vamos desligar os aparelhos elétricos nas tomadas.
- Viu?
- Viu o que?
- A nuvem vai se transformar em chuva,  você mudou seu estado para preocupada e chegou à conclusão de que é conveniente que desliguemos as tomadas. Tudo explicado.
- Nem tudo...tenho uma última pergunta.
- Aff. Então faça.
- Você vai me dar dinheiro para eu comprar aquela roupa nova.
- Ihh...não seja inconveniente. Mas vamos ver né. Tá vendo aquela nuvem? Pois é. Quem sabe se chover dinheiro lá no nosso quintal?

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