Outro dia achei engraçada uma conversa entre uma jovem mãe e sua filha defronte a um pet shop. A mãe olhava os cachorros na vitrine, mas a filha não se mostrava muito interessada. A mãe olhava um filhote e perguntava sobre procedência, pedigree, certidão de nascimento e a filha nem aí. De repente a mãe se irritou com a filha: - Puxa. Eu aqui tentando comprar um cachorro de raça pra você e você nem aí. - Mas mãe. Eu não quero um cachorro de raça. Eu gosto é do Justin.- Mas filha. Aquele não pode. É um vira-lata.- Mas pra mim não é. Eu gosto dele. Ele é carinhoso comigo e...- Mas que besteira. Você pegou o cachorro na rua. Nem sabe quem são seus pais. - Mas isso pra mim não importa, mãe. Esses cachorros aí são bonitos, mas o Justin é amigo. As duas ficaram lá discutindo e tive de sair, sem ver o final da história. Mas fiquei pensando comigo: que coisa esse negócio de purismo. Lembrei-me de Hitler e sua loucura por causa da raça pura. E se eu disser que Brasileiro é vira-lata? Eu digo isso no sentido da mistura. Somos um povo junto e misturado, resultado de levas e levas de miscigenações, sincretismos, um povo mix, uma grande experiência genética onde todas as cores humanas se misturam. Talvez esse viralatismo é que nos diferencie. E não me incomoda em nada ser um vira-lata. Muito pelo contrário! Assim como nos melhores amigos caninos, isso representa mais anti-corpos, mais vivências, mais cultura. Mesmo no que o nome tem de mais pejorativo eu aprecio. Dizem que o nome vira-latas advém do fato dos cachorros abandonados por seus donos viverem virando latas de lixo em busca de um pouco de comida ( o homem não tem sido o melhor amigo dos animais). Mas se formos pensar, metaforicamente, o que são os poetas a não ser vira-latas, que buscam retirar poesia do lixo da miséria humana? O próprio Cazuza disse isso em uma das suas letras: " O poeta sente o perfume de uma flor no lixo e fuxica". Eu tenho em meu sitio um vira-latas de nome zorro. É um cãozinho branco, que tem uma mancha preta nos olhos, que nem uma máscara do anti-herói mexicano. O Zorrinho é esperto e resistente como ele só. Tinhamos mais dois cachorros pastores. Os dois infelizmente morreram, mas o zorrinho está lá, vivinho e esperto como ele só. E pra terminar, quero falar do rock brazuca. Há pouco tempo estive conversando com um chegado no Facebook e este amigo tem uma visão purista do Rock. Acha que o rock só funciona em inglês e que Rock Brasileiro não é rock. Eu até argumentei que letristas como Renato Russo, Cazuza, Lobão, Herbert Viana, Arnaldo Antunes, Raul Seixas merecem respeito. Mas ele retrucou dizendo que pra ele isso não era rock ponto final. Ai fiquei pensando...ponto de vista, cada um tem o seu. Incorporamos algumas coisas do Rock Inglês, mas o Rock Brasil tem swing, malemolência, invencionismos que tem a ver com esse negócio de sermos uma nação mistureba. O Rock Brasil também é vira-latas...e isso é bom demais. E viva o Brasil Vira-latas.
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