








Quando menino pequeno em Alvinópolis, uma das coisas que me deixavam mais admirado era o Congado de N.S.do Rosário. Eu ficava com os olhos faiscantes ao ver os dançantes passando com suas roupas brancas, seus chapéus com fitas coloridas e espelhos, suas danças saltitantes e seus cânticos quase mântricos (me perdoem usar o termo, já que mantra vem de outra cultura religiosa). Alguns dias antes da Festa de N.Senhora saiam dois senhores pela cidade tocando tambores, solitários, dando uma volta completa na cidade e anunciando que estava chegando a hora de homenagear N.S.do Rosário. No outro dia os dançantes invadiam as ruas com seus pandeiros que pareciam dizer " tumdum, trascá! Tundum Trascá. Eu ficava olhando aquilo tudo e morrendo de inveja, doidinho pra arranjar uma roupa daquelas e dançar saltitando junto com aqueles moços, cujos pés pareciam flutuar. Mas sentia que isso não seria possível. Parecia que só era permitido aos de cor escura. Por isso, sempre imaginei que o congado era festa de negro que matava branco de inveja. Pois eis que no último domingo, dia 11 de outubro, o Bairro Laranjeiras em João Monlevade recebeu a fé e o colorido de diversos guardas de marujo e congado de João Monlevade e região. Estiveram presentes grupos de Monlevade, Rio Piracicaba, Nova Era, Padre Pinto e de Alvinópolis. Aliás, a presença da turma de Alvinópolis foi uma surpresa pra mim . Fiquei muito emocionado quando vi o Sr Anzolinho com seu cavaquim. Ele já foi meu treinador no titular do Pinga Rato, um time tradicional da cidade. Imagino que ele já deva estar chegando à casa dos 80 anos, assim como vários congadeiros presentes , muitos com mais de 60 anos de congado. Ai a gente fica pensando: de onde esse pessoal tira a motivação, a alegria, a energia para tantos anos? A resposta é que há umas centenas de anos,eles encontram motivação no amor, na devoção à Nossa Senhora. Durante esse encontro, foi muito interessante perceber as diferenças entre os grupos presentes. A guarde de marujos com seus tradicionais uniformes de marinheiros e seus tambores de trovão, o pessoal de Nova Era com roupas supercoloridas jogando fulô dos balainhos, a turma de Padre Pinto, com seus instrumentos originais e sua tradição dos alcântaras, a turma de Alvinópolis com sua dança saltitante e seu cantar diferente. Ao final, todos com suas caracteristicas, mas tendo em comum a devoção com a Santa e a relação de proximidade com a igreja católica. Neste dia foi celebrada uma missa conga lindíssima acompanhada por milhares de tambores e pandeiros, além das vozes maravilhosas de várias gerações de dançantes.O Prefeito Gustavo Prandini prestigiou o evento, juntamente com osAssessores Cristiano Vasconcelos, Luciano Roza e este que assina a coluna. Gustavo reconhece o valor cultural e a luta dos movimentos negros que carregam há séculos a tradição do congado e da devoção à N.S.do Rosário. Prova disso é que através da Fundação Casa de Cultura, promove o tombamento da Guarda de Marujos como patrimônio imaterial e posteriormente providenciará o tombamento dos outros grupos da cidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário