O primeiro espetáculo do dia aconteceu logo pela manhã, próximo à gruta da praça da Igreja de S.José dos Operários, um dos cenários mais bonitos de João Monlevade. Foi uma apresentação inesquecível para quem esteve presente, principalmente para a criançada. Os palhaços do Grande Circo Popular dos Irmãos Saúde deram um show de simpatia, envolvendo a platéia, cantando, fazendo acrobacias e principalmente, arrancando muitas risadas do pessoal. Interessante também a sonoplastia da apresentação. Ficava um sujeito tocando sanfona e fazendo os efeitos o tempo inteiro. Diga-se de passagem, um excelente músico. Após o espetáculo, fui conversar com os palhaços atores, que me disseram que os shows tinha algumas esquetes prontas, mas que a maior parte do espetáculo era improvisado, a partir da própria percepção dos palhaços. E que percepção viu. Sensacional. Bacana também perceber o envolvimento da cena local, dos artistas locais, que naturalmente fez opção pelos palhaços como forma de expressão artística. Já à noite, fui ver o espetáculo "Os Faladores", de Belo Horizonte.

No inicio, infelizmente tivemos um comportamento inconveniente por parte da platéia. Em primeiro lugar, porque alguns presentes continuavam a conversar alto, embora a própria atriz tenha até improvisado um pedido de silêncio, sendo até mais enfática mais á frente. Essa parte do público só sossegou quando começou uma parte da peça ( peça ou dança ou tudo junto), Quando começou uma parte de dança, em que todos cantavam alto e faziam evoluções diferentes, finalmente a platéia sossegou. A arte se impôs. Enquanto isso, prosseguiam as danças tortas, iconoclastas dos Faladores ( estavam falando com o corpo). Nada daquelas dancinhas sincronizadas de jazz de academia de ginástica ou coreografias de axé. Tudo quebrado. Mas na medida em que o espetáculo evoluia, entendemos o porque do nome "faladores". O povo falou em dialétos franceses, japoneses, indígenas e imagino que até em linguas inventadas. O bacana do espetáculo também foi a multi-habilidade dos integrantes. Todos tocam instrumentos, cantam, atuam e dançam. A coreografia foi por eles classificada como Dança Contemporânea. Pode até ser. Mas notei elementos de capoeira, de maracatú, de rock, de tudo um pouco. Se o logos do contemporâneo é o da fusão ou incorporação, tá tudo certo. Sai do teatro e desci pro show com o ator Monlevadense Marcos Câmera. Trocamos idéia sobre vários assuntos e naquela conversa, já percebi com clareza como tudo está valendo à pena. O festival está sendo precioso para a cena local e isso é muito, mas muito legal mesmo. Chegando no espaço dos shows, mais uma grata surpresa. Tive a oportunidade de conhecer o pessoal de São Domingos do Prata que estava trazendo a orquestra Arte e Som. Enquanto a banda tocava, me encontrei com um velho amigo festivaleiro e ele me contou a história da orquestra e da Fundação Monique Leclair. Conheci o Sr Matipó, presidente da fundação e ele me contou como funcionava a instituição, me convidando para uma vista que farei com o maior prazer. A orquestra Arte e Som é formada principalmente por crianças carentes e apresenta um repertório composto por clássicos e canções da MPB. A apresentação em Monlevade foi levemente prejudicada por causa do frio. O Maestro afinou todos os instrumentos várias vezes antes do show, mas nem assim conseguiu que a afinação se mantivesse. De qualquer maneira, como a platéia é formada quase que exclusivamente por leigos, essas questões técnicas acabaram passando batidas para a maioria. Pra mim foi uma prova inconteste da pujança da arte produzida em nossa região, quase sempre tendo como força motriz o amor, melhor combustível de que se tem notícia.
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