Enquanto isso, numa escola de política ...
- Professor, nós sabemos que o senhor é presidente do seu partido há 40 anos e nunca foi sequer deputado. Qual é a seu segredo?
- Segredo a gente não conta. Mas tudo bem. Olha, alguém tem de operar as marionetes. Você vê o jogo político e acha que os personagens estão no comando, Não é verdade. Tem gente extremamente capacitada movendo as peças.
- Professor, é possível apoiarmos projetos do governo quando forem bons e aceitos pela população?
- Não devemos apoiar nada desse governo que está aí, pois precisamos tomar o poder para colocar na mão de um prefeito nosso. Se asfaltar, o asfalto prejudica o meio ambiente. Se investir na saúde, falaremos no aumento das doenças. Se investirem em educação, incitaremos greves.
- Professor. Sobre coligações. Podemos nos envolver com o pessoal do PSPT?
- Nem pensar. Eles são capazes de coisas que até o diabo reprova. Muito barra pesada.
- E o PN do B?
- Também não. Eles tinham fama de comedores de velhinhas no passado.
- Tudo bem. Mas e o PDHdoBH?
- Esse é o pior de todos. Defendem os direitos humanos, para desespero dos canhotos.
- Mas professor. Vamos nos coligar com quem então?
- Ora, tem centenas de partidecos microscópicos. Tem o PPB, Partido Pequeno do Brasil, tem o PNI - Partido Nacional Invisível e o novo Partido Secreto, tão secreto que ninguém ficou sabendo de sua existência.
- Mas professor, nosso prefeito vai concorrer por um partido nanico?
- Não. Concorrerá pelo Partido Mais Dilatado do Brasil, aquele que se adapta pra encaixar em qualquer governo.
- Mas sobre o candidato escolhido ? E se ele depois resolver mijar fora do pinico?
- Olha. Bola de cristal a gente não tem. Se ele vai ser bom ou ruim, se vai fazer a política do grupo é uma coisa pra ver depois. O importante é tirar esses que estão lá e ajeitar a nossa turma na prefeitura. Agora, se o outro que entrar lá não dançar conforme a música, a gente tira ele na próxima também.
- Mas professor...não deveria ser mais importante pensar em fazer um bom governo? Montar um bom secretariado?
- Ah. Isso é detalhe. O importante é ganhar. Depois que ganhar, desde que o prefeito não atrapalhe os interesses da nossa turma, a gente deixa ele fazer o que quiser. É só não atrapalhar os nossos negócios. Se ele andar direitinho, a gente reelege ele. Se desafinar, a gente faz a caveira e elege outro.
- Mas professor. E se aparecer do outro lado um daqueles sujeito que o povo cisma de eleger?
- Uai, se aparecer a gente vai perceber e dá um jeito de botar umas fichas na campanha dele. É lógico que tem de arrumar um laranja pra isso. Mas seja qual for o candidato, o importante é dar um milho pra ganhar depois. Uma coisa eu lhe garanto: seja qual for o vencedor, nós estaremos juntos de um jeito ou de outro, dando as cartas, como sempre fizemos.
- Professor. O nome disso não é máfia?
- Máfia? Não! O nome disso é poder.
- Professor. Mas o coronelismo não acabou?
- Coronelismo? Que bobagem. Isso nunca existiu.
- Professor, uma ultima pergunta: o que o senhor aconselha a alguém que queira fazer carreira política?
- Aconselho que arrume dinheiro pra comprar um monte de gente. Sem dinheiro, ninguém vai longe.
- E quem não tiver dinheiro?
- Ora. Tem muitas maneiras de arranjar dinheiro. Só buscar algum financiador bem sucedido. Pode ser por exemplo do ramo do entretenimento sexual, da venda de substancias psicoativas, de diversas fontes seguras de dinheiro não declarado.
- Mas isso não é ilegal?
- Ilegal? Você deve estar brincando! Ilegal é aquilo que não é legal, certo? Pois uma coisa eu lhe garanto. ser pobre é que não é legal.
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