sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

ENTREVISTA COM GRANDMASTER RAPHAEL - UM MESTRE DO FUNK

Grandmaster Raphael com os funkeiros de Monlevade
 O prefeito Gustavo Prandini fez questão de conhecer o produtor e bater um papo com a turma.

Tive a oportunidade de entrevistar o produtor Grand Master Raphael, um dos mais conceituados produtores da Cena Funk do Brasil. Grandmaster esteve em João Monlevade no final de 2011, proferindo palestras para os funkeiros Monlevadenses, orientando, conversando com os artistas e auxiliando a Fundação Casa de Cultura na formatação do projeto CENAS DA PERIFERIA. O projeto vai produzir um CD e vídeos com os funkeiros da cidade, cuja seleção foi feita pelo próprio Grand Master. A presença do produtor está sendo fundamental para formatação de um projeto que objetiva oferecer toda a condição para que a cena funk-rap-hiphop local se desenvolva com qualidade de mercado. Interessante vermos a história da evolução de um movimento, tão contestado pelos intelectuais, mas que tem uma marca cultural forte, de expressão de uma massa antes marginalizada e que encontrou sua voz. Dá pra perceber, que assim como acontece com outros gêneros, o grande público acaba glorificando o mais fácil, em detrimento do que é mais elaborado. Mas vamos á entrevista......

MM - Grand Masther, como é que começou a sua história no funk?

GMR – Rapaz, desde criança que eu ouço soul music. Os ídolos da minha juventude eram James Brown, Tony Tornado, Gerson King Combo. Isso se deu em meados de 1976-77.

MM- Mas já havia uma cena funk na cidade naquela época?

GMR – Haviam equipes de som que faziam bailes, como o Soul Grand Prix, Jet Clack, Cash Box. E eu ia atrás, sempre curioso.

MM – E nessa época você já começou a tocar?

GMR – Exatamente. Eu tinha um som pequeno, fazia festinhas, tocava de tudo.

MM – Nessa época tava em voga também o samba-rock né?

GMR – Sim. Mas nessa época entrei numa equipe maior que fazia megabailes. Não entrei como primeiro Dj, mas foi importante pra aprender.

MM – Mas depois chegou a primeiro DJ?

GMR – Sim, logo em seguida o cara que era o primeiro DJ virou top e assumi como primeiro DJ. A partir daí, boas coisas começaram a acontecer. Fui visto e convidado para trabalhar na TROPICA FM do Rio, que tocava mais o funk americano.

MM – Mas como se deu a explosão do funk carioca?

GMR – Bom, se deu mesmo na década de 90. Mas antes, a partir de 84, pintaram influências importantes, principalmente o Miami Bass.

MM – Fale um pouco mais sobre o Miami Bass.

GMR – Eram batidas eletrônicas, mas que formataram o som do funk durante um bom tempo. Depois vieram os samplers fizeram a diferença e permitiram muita criatividade.

MM – Qual a diferença daquela época pra hoje?

GMR – Naquela época foi interessante, pois os DJs faziam rádio, então ajudaram a levar as músicas para o Rádio. E era mais seletivo.

MM – Seletivo em que sentido?

GMR – Os Djs sabiam o que tinha qualidade, eram filtros.  O nível do que se ouve caiu bastante em termos de letras. Isso acaba tendo um lado ruim, pois o povo acha que tá tudo ruim e tem muita coisa legal sendo feita.

MM – E qual você considera a música referência, que deflagrou o movimento funk.

GMR – O Rap do Pirão. Essa foi a primeira referência. A música bateu forte. Antes haviam alguns movimentos isolados.  Engraçado que a música surgiu num festival de música. Naquela época haviam muitos festivais de galera, gincanas, com etapas nas favelas, concursos de raps. Esses festivais formaram uma grande onda. Eu já trabalhava na Furacão 2000 nessa época.  Ai pintou um Festival e o Rap do Pirão ganhou um prêmio. Nesse festival,  Claudinho e Bochecha ficaram em 3º Lugar. Daí que as rádios começaram a tocar a música e todos perceberam que podiam fazer.

MM – E daí, o que mais aconteceu?

GMR – Rapaz, começaram a surgir muitos nomes. Surgiu a Cash Box, que descobriu MC Galo, depois MC Mascote. No início era mascote e Neném. Sucesso total. E naquela época, tinha letras muito boas. Engraçado que inicialmente o pessoal não chamava de funk, mas de rap.

MM – E sobre as batidas?

GMR – Pois é começamos a usar as batidas do Miami Bass, depois do Volt Mix, mas eram mesmo batidas de Miami. E agora temos a maravilha do sampler, com a representação real de qualquer som. Hoje podemos misturar tudo, desde percussão brasileira, um trabalho de colagem muito interessante. E vem às evoluções também das batidas. Hoje temos umas coisas bem brasileiras, meio candomblé e utilizando os beat Box, com sons de bateria feitos com a boca. Além do tamborzão, que é uma grave bem profundo mesmo.

MM – E o funk se multiplicou pelo Brasil gerando outras cenas?

GMR – Nossa. Demais. Por exemplo, Santos, no litoral de SP virou um pólo muito interessante. Os bailes por lá são sensacionais. Trabalho lá direto. Em Minas também o pessoal gosta bastante e tenho vindo a Belo Horizonte. O movimento funk em BH é muito forte. Mas tem funkeiros pelo país inteiro. Rapaz, até no exterior o funk é muito bem recebido. Acabo de voltar de Portugal e você nem imagina. Parecia que estava num baile no Rio de Janeiro.

MM – E João Monlevade? O que sentiu na cena local?

GMR – Tem uma meninada promissora. Passei uns dias com eles, trocamos idéias e na medida do possível vou dando minha parcela de contribuição. Inclusive eu preciso dizer que na esfera dos governos é muito raro investirem no funk. Talvez por preconceito, por quererem marginalizar um movimento legítimo, que tem história e muito ainda para evoluir. Por isso, quero dar parabéns ao prefeito da cidade pela iniciativa.

MM – Última pergunta: para onde vai o funk?

GMR – Sempre surge um artista que indica o caminho. Eu sinto que o funk tá precisando de uma balançada, talvez um pouco mais de harmonia, melodia e letra, mas tá na sua linha evolutiva.  Vamos acompanhar, pois muita coisa boa ainda vai pintar.


APOIANDO O PROJETO CENAS DA PERIFERIA, O PROGRAMA DIVINAL FUNK, TODOS OS SÁBADOS, DE 18 AS 20 HORAS NA COMUNICATIVA FM - 87,9.   APRESENTADO PELOS MCS SERGINHO, DEJOTA e JB, O DIVINAL FUNK ESTÁ HÁ 10 ANOS NO AR, APOIANDO O MOVIMENTO FUNK - RAP - HIPHOP NA CIDADE.


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