Vejam o paradoxo. Muitos pais matriculam seus filhos em escolas de música e quando eles pegam amor pela coisa, quando se enchem de sonhos, os mesmos pais que estimularam o aprendizado desmotivam completamente os filhos para a carreira musical. Usam argumentos do tipo: "Meu filho, música não dá dinheiro. É uma profissão muito difícil. Tente carreiras como medicina, odontologia, direito, informática, mas música não. Não quero filho vagabundo, maconheiro dentro de casa. Se for menina então é pior. Menina rockeira não casa, é mal vista. Bom, exagerei um pouco nas cores mas infelizmente é essa a realidade na maioria dos casos. Os pais querem que os filhos aprendam música para encher o tempo, como um adereço, para a diversão e nunca como profissão. Há pouco tempo li uma entrevista com o Daniel Bahia e ele desabafava seu descontentamento com essa tendência, afinal, ele próprio é um exemplo de que é possível sobreviver com dignidade através da música. Daniel mantém uma escola com 400 músicos de diversas modalidades e é um dos que defende a dignidade da carreira musical, bem como o respeito pelo músico. Pra completar o dilema, tem a sedução dos estilos comerciais para os músicos realmente bons. Conheço músicos muito, mas muito bons mesmo que tocavam em bandas instrumentais, de jazz, de rock, mas estão hoje tocando com as duplas Sertanejas, que tem mercado e pagam bem. Além desse paradoxo, ainda existem outros cases que provocam desvios nos caminhos dos artistas. Quando um pai vê que um sujeito tipo Michel Teló está ficando trilhardário, logo põe na cabeça que música é aquilo. Subverte-se o papel da arte. O sujeito tem de formatar para o sucesso e o sucesso geralmente é uma música "Fácil, extremamente fácil". Vejam o exemplo dessas músicas citadas, de "Ai se eu te pego", de "Fácil" do Sideral, do "Creu", de outras que viraram sucesso. As músicas fazem seus autores e intérpretes ricos em pouco tempo. Ai, que nem quando joga na megasena, sai um monte de gente tentando fazer o próximo hit, que também deverá ser descerebrado, simples e assimilável pelo mais mal dotado de massa encefálica. E pra complicar mais essa questão, o planeta está se uniformizando pela média. Pela média não! Por baixo mesmo. Hoje tudo é direcionado para as chamadas classes C e D, que tem aumentado o poder de compra, mas que tem baixíssimo senso crítico. Aliás, esse tem sido um desafio que o capitalismo tem vencido com muita facilidade: educação pró-consumo. E esses cidadãos dos novos tempos não precisam pensar, mas consumir. Aliás, pensar demais leva ao questionamento e o imperativo é "Não aceitamos devoluções. Questionar é bobagem. Melhor jogar fora e comprar um novo! Mas voltando ao devaneio inicial, tá ficando muito difícil a sobrevivência do que tem mesmo valor cultural num mundo cada vez mais idiotizado. Mas existe um bem que vale mais do que o dinheiro que é o amor. Muitas vezes a pessoa tem um dom, um talento para a arte, mas sucumbe a outras propostas de mercado para ter uma vida de mais fartura material. Neste sentido, algumas trabalhos formados, alguns projetos, alguns artistas vão ficando pelo caminho, mas lá na frente, o filtro do tempo vai depurando e dando o devido retorno para os que perduram, para os que continuam acreditando e investem todo o seu amor nos sonhos.
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