quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Precisamos de inimigos?


Mais um texto bacana do Magno Mello.

Todo super herói tem seu arquiinimigo. Batmam, Superman, Homem Aranha, Homem de Ferro, todos têm. A maioria até mais de um. Claro, não se fazem heróis sem inimigos.
Dizem que Sócrates, o filósofo, também tinha o seu. Aliás, a sua, que era a própria esposa - uma de suas duas - a Xantipa. Conta-se que ela era de temperamento dificílimo, terrível com o coitado do Sócrates. Mas, ele a suportava e ainda achava que a danada colaborava para as boas graças de sua filosofia, por só lhe trazer contrariedades. Claro que deve ser lenda, mas há quem tenha dito. 
E nós, precisamos de inimigos?
Quando se fala em inimigos os Estados Unidos são os reis da cocada. Não há país que tenha mais inimigos no mundo, mas não só isso, que tenha também tantos inimigos públicos número um. E veja só o sucesso histórico dos americanos, que nunca cresceram tanto como quando entraram na segunda guerra e depois quando instituíram a guerra fria por décadas contra os soviéticos. Sem contar a guerra do Vietnã, apesar de tudo que se perdeu.
Bin Laden foi até um inimigo perigoso. Estremeceu os alicerces simbólicos do país, que infelizmente deu o azar de ter no poder o inapodável (boa essa) George Bush filho. Iraque e Afeganistão, no entanto, já foram vilões pouco mais fracos. 
E hoje os Estados Unidos padecem com a dificuldade de encontrar um novo arquiinimigo que lhes dê vigor. Mas basta aparecer um Armadinejad e olha a taxa de desemprego americana novamente em queda. Embora isso possa não perdurar muito.
Quanto aos tais inimigos públicos há um sem número deles ao longo da história do país. Dois dos mais peculiares foram o Osho - ou Rajneesh - e o Timothy Leary.
Osho, o guru indiano, nos anos 80 fez prosperar rapidamente uma comuna no deserto do Oregon Central com cerca de cinco mil seguidores que meditavam dia e noite. Além disso, desfilava de Rolls Royce e tinha uma pequena coleção de noventa e três deles. Sobre ele o escritor e jornalista Tom Robbins declarou: “Osho é o homem mais perigoso desde Jesus Cristo.” E escreveu ainda: “Ele disse coisas que ninguém mais teve coragem. Teve todos os tipos de idéias que, por terem ressonância de verdade, assustavam os monstros do controle”. E por essas e outras foi expulso do país no final de 85, com todos os requintes de ameaça, tendo que declarar-se culpado por trinta e tantos crimes, correndo risco de vida, além de ser condenado a pagar multa de quatrocentos mil dólares.
Timothy Leary também foi um caso a parte. O Timothy era bonitão, psicólogo e neurocientista pós-doutorado, quando deter título como esse nos Estados Unidos e no mundo inteiro era coisa para poucos. No auge da contracultura americana o Timothy fazia pesquisas com LSD, utilizando como cobaias de seus experimentos jovens da classe média que se entregavam voluntariamente e com muito prazer ao estudo. Nessa época ele foi o terror da América e em outro sentido o terror de milhares de jovenzinhas do país, o que o tornava ainda mais perigoso. Durante os anos 1960 e 1970, Leary foi preso regularmente, sendo mantido em cativeiro em 29 prisões diferentes por todo o mundo. Mas sempre dava jeito de fugir e retornar clandestinamente ao país. Até disfarçado de mulher. O próprio presidente Nixon descreveu Leary como "o homem mais perigoso da América".
E esses foram e são os Estados Unidos, sempre em estado de alerta diante de seus inimigos, e sempre prosperando. Agora, no entanto, em tempos de vacas magras das inimizades, bem menos.
Pois o que um bom inimigo nos faz, se é que há inimigos bons, senão exatamente nos deixar em estado de alerta, muitas vezes nos impedindo o descanso e, por isso mesmo, o acomodamento?
Mas, precisamos mesmo de inimigos para prosperar? E se os temos, quem ou o que são eles? Ou, em outras palavras, o que nos mantém alertas? 
Paul MacCartney declarou que ele John Lennon tinham como objetivo superar qualquer canção que entrasse no mercado. Bastava o Brian Wilson ou os Stones chegarem com uma nova música incrível e lá iam eles compor desenfreadamente na tentativa de superar aquela novidade.
Precisamos ou não de inimigos?
Em nosso trabalho é sempre um querendo puxar nosso tapete. Em nosso meio social basta dar chance, mandar uma na trave ou nem isso, e lá vem outro tentando nos passar a banda.
E, às vezes, até o próprio cônjuge não é um pouquinho, só um pouquinho, nosso inimigo?
Precisamos ou não de inimigos?
Nossos medos, covardias, incapacidades, vergonhas, tudo que não podemos mudar em nosso passado e que acaba se transformando em desejo de superação, como se buscássemos alguma reparação, também não são inimigos? 
Mas, será que precisamos realmente disso? Ou apenas não aprendemos a fazer de outra forma? Precisamos ser atazanados para ir em frente?
O Tom precisa do Jerry? O Patolino do Pernalonga? Quem sabe só em nossa fantasia?
Eu mesmo não sei dizer. Mas imagino que também deva ter minhas inimizades.
E sinceramente não me importo em tê-las, contanto que meu inimigo não seja eu mesmo ou alguém de quem goste muito. Digo isso porque passei muito tempo de minha vida me importando, até demais. Queria ser aceito. Tinha medo de contrariar quem fosse.
Um dia, porém, eu mesmo me aceitei, do jeitinho que era e sou. E perdi o medo de ter inimigos – tirando os inimigos mortais, que esses são mesmo perigosos.
Mas ter é uma coisa – pode ser inevitável, por não depender apenas de nós – precisar é outra.
E hoje me pego pensando no assunto pois me deparo intimamente com esse novo dilema: 
Precisamos ou não de inimigos? Porque se de fato precisamos, gostaria de aproveitar e prestar aqui minha homenagem, além de deixar um sincero agradecimento aos meus.
Obrigado por me tornarem melhor a cada dia! E, claro, espero um dia não precisar mais de vocês. Se é que ainda preciso.
No mais, só alegria. E amizade.

Obs: lembrando que inimigos podem ser outros que não pessoas. 

Por Magno Mello

Um comentário:

  1. Putz!
    Por razoes de estar contestando em meu coraçao, a respeito da musica gospel e de alguns seguimentos da igreja evangelica ou de todas as igrejas; estou re-lendo dialogos de platao e a Biblia, para tentar achar a resposta para a sua e a minha pergunta.
    Muito interessante as suas reflexoes, parabens.
    Fique na paz!

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